Quando comecei a pensar em uma retrospectiva 2024, a primeira imagem que surgiu foi a de uma jovem que conheci na biblioteca da universidade de Ponta Grossa. Ela me ouviu atentamente falar sobre meus romances, minha obra em geral. Era um grupo pequeno de jovens entre 17, 18 anos. A moça me chamou a atenção pela concentração. Difícil jovens serem tão atentos, pensei.
Depois que acabei de falar, ela veio até mim e disse: “Obrigada por me motivar. Quero escrever a história da minha mãe, e o que você falou foi muito importante para eu começar meu projeto”. Eu não sabia que a tinha motivado. Nem a ninguém ali. Pensei que estava apenas falando sobre meu trabalho literário e não tinha alcance das peças que poderia mover na imaginação de cada jovem presente.
As palavras da moça me fizeram pensar no trabalho de despertar o desejo de escrever — não com fins literários, mas, digamos, apenas escrever. Não se escreve só para se tornar um escritor ou publicar livros. A escrita é um processo de elaboração de ideias e sentimentos, memória, imaginação e observação que pode ajudar muitas pessoas em diversas fases da vida. É um exercício amplo, com várias bifurcações.
Fiquei feliz por poder dividir com aquele grupo o meu entusiasmo pela escrita apesar de todos os desafios inerentes à profissão. Quando se tenta viver de literatura pode ocorrer de em algum momento o sentimento de angústia transparecer e falar mais alto; é muito difícil não sentir desânimo ou vontade de desistir e tentar não escrever. Fiquei feliz por ter conseguido não transmitir nada disso. A minha mensagem foi de coragem.
O agradecimento dela foi justamente “obrigada pela motivação”. Tão simples, não é mesmo? A motivação é como um anel mágico que a gente passa de mão em mão. Quantos caminhos e portas uma pessoa poderá abrir a partir de um incentivo? Não sabemos… Por isso é essencial que a fala do escritor não esmoreça.
Nós, autores, somos mais importantes do que pensamos, pois nosso compromisso com a palavra vai além da frase bonita ou de efeito em um livro que só com muito custo chega a um pequeno grupo de leitores. Mesmo que a gente pense estar escondido em um mundo opaco que não nos enxerga direito, somos importantes pelo que representamos.
Que em 2025 eu possa falar em mais bibliotecas, mais salas de aula, mais faculdades para que mais alunos e estudantes possam e queiram me ouvir. Sobretudo: que o entusiasmo não se perca no meio do caminho. O anel precisa continuar passando de mão em mão…