Estou sentada na frente de um estúdio de TV em uma cidade de Minas onde eu morava quando tinha meus 20 e poucos anos. Por essas organizações cósmicas incompreensíveis a olho nu, fui parar ali e fiz na cidade minha formação em Jornalismo, incluindo um mestrado em Letras depois. Naquele momento em que esta história começa, estou sentada em um banco de madeira à espera do dono da TV que, a pedido de um conhecido de um conhecido, iria me receber. Meu currículo eram apenas a vontade e a necessidade de trabalhar, além de um mestrado em Letras que não significava nada.
Sentada no banco de madeira, à espera de quem me abriria as portas douradas do meu primeiro emprego, eu não sabia que meus diplomas não valiam nada. Achava que era algo bem valioso ter um mestrado. Vejo, com os olhos cobertos pelo tempo das décadas, a transparência da minha ingenuidade. Vesti uma blusa branca e uma calça jeans. O estúdio, no topo da ladeira, ficava na mesma rua onde estava meu prédio. Talvez minha mãe, da janela, pudesse observar meu fracasso: ficar horas à espera de ninguém aparecer.
Estou sentada e assim fiquei. Não foram horas. Foram longos anos sentada naquele banco de madeira. Por que não vou embora? Essa é a pergunta que a pessoa de hoje, feita e refeita na pedra dos anos, faz àquela jovem sentada com os diplomas na mão, achando que seria recebida por alguém. As pessoas passavam por mim como se eu não existisse. Quem disse que eu existia?
Aquela espera me deu mais um diploma, e só algum tempo depois pude entender: os “anos” de espera me serviram para conhecer não só um pouco mais sobre os humanos que não se importam em deixar humanos esperando, como também compreender que existe sempre um tempo de espera que precisa ser respeitado. Se esse tempo passar demais, está na hora de aceitar que aquela determinada porta talvez não vá se abrir para você. E isso será maravilhoso.
Claro que me levantei me sentindo derrotada. Era só a primeira derrota de várias outras. A cidade sempre me foi indócil… Outras portas se abriram depois. E depois resolvi sair dali para aventuras maiores. Tento compreender por que aquela imagem ainda insiste em aparecer na minha tela mental: sentada no banco de madeira à espera de ninguém. O gesto de se levantar se repetiu inúmeras vezes, mas nunca foi tão pesado como naquela vez. Os caminhos se bifurcaram em tantos outros maiores e melhores. Eu ia detestar trabalhar naquela TV… O mestrado que eu não sabia que não valia nada realmente não valia para aquela situação, mas foi valioso em outras. Estudar Literatura foi uma das maiores alegrias que a vida acadêmica me deu. Borges e seus caminhos mágicos e insondáveis me abriram outras portas para mundos muito mais estimulantes.