Dos anos 1940 até a morte de Rubem Fonseca, o Brasil teve quatro escritores gigantes: Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Raduan Nassar. São escritores que criaram personagens e situações memoráveis e uma linguagem ímpar. Guimarães Rosa, com sua prosa poética, extremamente inventiva, é inimitável. Raduan Nassar, pela densidade e ritmo de uma prosa exata, também é inimitável. E quando um escritor é inimitável, claro, é único, desacompanhado. Clarice Lispector e Rubem Fonseca criaram escolas — e são, de algum modo, seguidos, repetidos, reiterados por escritores que os tomam como mestres, em certas situações e nos cacoetes de estilo. Há escritoras, sobretudo, que seguiram os passos de Clarice, mas só extraíram dela o dado existencialista de sua prosa, jamais a inventividade poética, os instantâneos ou achados de uma linguagem inigualável. Rubem Fonseca fez escola por seus personagens e situações brutais e uma linguagem direta, desabrida. Poucos escritores no Brasil tiveram uma linguagem que aderiu com tanta força ao personagem, com um poder raro de representá-lo e a situação que vive. Li muito Rubem Fonseca, ministrei inúmeras aulas sobre seus contos. Sempre que eu publicava um livro enviava um exemplar para o endereço dele no Rio de Janeiro. Em poucos dias, invariavelmente, eu recebia um telegrama (sempre um telegrama!) do grande escritor. Telegrama sintético, curto, quase sem fôlego — apenas acusando o recebimento do exemplar. Talvez ele nem soubesse, mas o escritor e articulista da Folha de S. Paulo Marcelo Coelho publicou em 2010 um ótimo artigo (que resultou de uma palestra que ele proferiu numa universidade americana) no qual mostra como Rubem Fonseca criou uma escola da “Literatura da violência”. Marcelo Coelho, no artigo, trata das características dessa literatura: cenas de violência urbana extrema, crueza, narradores frios, sem qualquer sentimento, etc. E indica, no Brasil, os principais escritores que teriam, em boa medida, sofrido influencia forte de Rubem Fonseca e que integrariam tal escola: Patrícia Melo, Paulo Lins, Fernando Bonassi, Marçal Aquino, Ferréz e este que vos escreve.