Prosseguindo no comentário de poemas do livro Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles, vejamos As duas velhinhas: “Duas velhinhas muito bonitas,/ Mariana e Marina,/ estão sentadas na varanda:/ Marina e Mariana// Elas usam batas de fitas,/ Mariana e Marina,/ e penteados de tranças:/ Marina e Mariana// Tomam chocolate as velhinhas,/ Mariana e Marina,/ em xícaras de porcelana:/ Marina e Mariana// Uma diz: ‘Como a tarde é linda,/ Não é, Marina?’/ A outra diz: ‘Como as ondas dançam,/ não é, Mariana?’// ‘Ontem eu era pequenina’,/ diz Marina/ ‘Ontem, nós éramos criança’,/ diz Mariana// E levam à boca as xicrinhas,/ Mariana e Marina,/ as xicrinhas de porcelana:/ Marina e Mariana// Tomam chocolate as velhinhas,/ Mariana e Marina,/ e falam de suas lembranças,// Marina e Mariana”. A lembrança e a passagem do tempo são os temas fortes deste poema. As velhinhas Marina e Mariana, tomando chocolate numa varanda, de repente recordam a infância, os tempos idos. E constatam a inexorabilidade (ou o caráter inelutável) do tempo: “‘Ontem eu era pequenina’,/ diz Marina/ ‘Ontem, nós éramos crianças’,/ diz Mariana”. A constatação da inexorabilidade do tempo deixa implícita a ideia de que, em sendo já velhinhas, o tempo por viver é parco diante do vivido. Uma questão interessante de ritmo: a permuta/deslocamento das palavras “Marina” e “Mariana” nas estrofes — o que confere ao texto um caráter lúdico, recreativo (lembrando que as personagens recordam/evocam a infância).