O olhar dos velhos. Um olhar que eu via na minha bisavó em noites de festa, ela num canto do sofá camuflada em violeta como para sorver melhor sozinha o que ainda pudesse aproveitar de doce naquela confusão de vida. Não a sede desse olhar, nem sua ternura, que eram próprias da bisavó, mas aquela postura meio apartada dos outros, meio apartada de tudo, que às vezes percebemos nos velhos, como de espectadores apenas vagamente interessados no movimento.
Não um olhar que ainda dialoga ou contesta, nem daqueles vingativos que dizem: deixe estar, logo você vai ver. O olhar em que estou pensando apenas sobrevoa o ambiente, numa última ou penúltima investida de ave sobre um cansaço de montanha. Um olhar não completamente embaçado, que ainda tem êxito em sua discreta participação recreativa. Como de quem não está mais aí para se pronunciar ou se fazer notar, e que agora passeia desde lá da ponta de uma nova infância, pela intenção mesma de passear, sem segundos motivos.
Pode ser que, para esses velhos que olham sobrevoando, assim, à distância, a cena humana lhes sirva satisfatoriamente de parque de diversões ou peça tragicômica. Pode ser também que, entre os melancólicos e os sonhadores já sem memória, haja desses que se fazem meio alheios por regozijo próprio. Sim, certamente os há. Pois não contam que Volpi às vezes tirava seu aparelho auditivo no meio do falatório e lá ficava, plenamente integrado, plácido e feliz? Esses que se fazem confundíveis com a quietude da paisagem por sabedoria, e não apenas porque estão cansados. Velhos que olham à distância porque são sábios. Sábios como uma montanha é sábia.