A argentina, que vive hoje na Alemanha, Samanta Schweblin costuma se identificar como contista, e não romancista, apesar de ter escrito os romances Distância de resgate e Kentukis, ambos finalistas do International Man Booker Prize.
É essa sua faceta que aparece em Pássaros na boca e Sete casas vazias: contos reunidos, livro que a Fósforo publica com tradução de Joca Reiners Terron. Trata-se da reunião de dois volumes de contos da autora, Pássaros na boca (2009), em tradução revisada por Terron, e Sete casas vazias (2015), inédito no Brasil.
Os contos apresentam uma miríade de personagens incomuns, narrativas fantásticas, elementos sobrenaturais, sanguinolentos e grotescos que fizeram de Schweblin um destaque internacional da literatura contemporânea.
A autora recupera também a tradição do conto fantástico novecentista europeu, que encontra na Argentina solo fértil para o florescimento de um novo insólito, calcado nas particularidades do país.
Pássaros na boca é o título homônimo de um conto em que uma menina passa a se alimentar de pássaros vivos, para desespero de seus pais. Se isso não parece verossímil, tampouco o são os demais personagens: uma esposa assassinada em uma mala torna-se obra de arte, um herdeiro milionário age como criança na loja de brinquedos, um rapaz passa por uma prova inusitada a fim de se tornar assassino de aluguel, entre outros.
Sete casas vazias por sua vez explora o espaço doméstico como palco de um terror que, por ser cotidiano, não é menos inquietante. Aqui, as estações de metrô, o trânsito, mercadinhos de bairro e apartamentos pequenos são o cenário de divórcios, suicídios, doenças e dos não ditos que preenchem cômodos e ilustram com nitidez o estranho familiar [Unheimlich] descrito por Freud.