Vinte e cinco anos após a morte de Marguerite Duras, o livro Escrever, espécie de memória literária da autora francesa, ganha uma nova edição no Brasil, pela Relicário.
Publicado originalmente em setembro de 1993, apenas dois anos e meio antes da morte de Duras, aos 82 anos, o livro mira na escrita e na linguagem da autora, constituindo-se em uma espécie de “testamento literário”.
Escrever é composto de cinco ensaios independentes: “Escrever”, que dá título ao livro, é o primeiro deles e também o mais marcante, pois Duras revela confidências sobre seu trabalho e seus amores, sobre a infância e, sobretudo, sobre a solidão e as angústias que permeiam a criação literária: “Escrever. Não posso. Ninguém pode. É preciso dizer: não podemos. E escrevemos”.
Os outros ensaios são: “A morte do jovem aviador inglês”, “Roma”, “O número puro” e “A exposição da pintura”. A poeta e cronista do Rascunho, Mariana Ianelli, afirma, na orelha do livro, que Duras e “seus amantes, seus amigos, sua infância selvagem na Indochina colonial, seus livros e personagens coextensivos à sua vida, seus filmes rodados a partir dos livros, sua ligação com o PCF, a maternidade, o convívio com o mar de Trouville e os jardins de Neauphle, sua autoestrada de palavras de cronista: tudo está aqui, tudo irradia do coração da casa. Seja em Paris, Trouville, Neauphle-le-Château ou Nova York”.
Marguerite Duras, uma das escritoras mais consagradas do mundo francófono, nasceu em 1914 na Indochina — então colônia francesa, hoje Vietnã —, onde seus pais foram tentar a vida como instrutores escolares. A vida na antiga colônia, onde ela passou a infância e a adolescência, marcou profundamente sua memória e influenciou sua obra.
Em 1932, aos 18 anos, mudou-se para Paris, onde fez seus estudos em Direito. Em 1943, publicou seu primeiro romance, Les impudents, iniciando então uma carreira polivalente, publicando romances, peças de teatro, crônicas no jornal Libération, roteiros, e realizando seu próprio cinema.
Dentre suas mais de 50 obras, estão os consagrados Uma barragem contra o Pacífico, O deslumbramento de Lol V. Stein e O amante (seu best-seller, que lhe rendeu o Prêmio Goncourt de 1984 e foi traduzido para dezenas de países).
Em 1959, escreveu o roteiro do filme Hiroshima, mon amour, dirigido por Alain Resnais e alcançou grande sucesso. Nos anos 1970, dedicou-se exclusivamente ao cinema, suspendendo romances, mas publicando seus textos-filmes. Morreu aos 81 anos, em Paris, em 1996.