Em 2022, a Estação Liberdade publicou a primeira parte de uma trilogia de romances do japonĂŞs Kenzaburo Oe, PrĂŞmio Nobel de Literatura em 1994. A substituição ou As regras do Tagame traz como protagonista Kogito Choko, alter ego do prĂłprio Kenzaburo Oe. Agora mais velho, Choko protagoniza Adeus, meu livro!, livro protagonizado por .Â
Convalescente depois de ter sido ferido, ele recebe no hospital a visita de Shigeru Tsubaki, um amigo de infância com quem vai morar, após a alta, numa propriedade de veraneio próxima a Tóquio.
A partir do reencontro e de muito diálogo entre os dois personagens, Oe, que Ă© conhecido como mestre na arte de permear a literatura com experiĂŞncias de sua vida pessoal, oferece uma vasta gama de assuntos que, sendo caras ao autor, tal como sĂŁo postas, sĂŁo tambĂ©m de interesse da humanidade. Fala-se de literatura, arquitetura, cinema, mĂşsica, polĂtica, de guerras, de suicĂdio e envelhecimento.
A dinâmica de duplos não se limita a Kogito e Shigeru. Há espelhamento nas relações de outros personagens. Espelhamento também entre vivos e mortos. Ocidente e Oriente. E, no fundo, talvez o mais significativo: entre externo e interno.
Kogito, adepto de longa data do pacifismo, encontra-se num dilema: participar ou não de um ato violento para garantir dos danos o menor, ao invés de tentar evitá-lo de todo. A decisão terá que ser tomada ou por sua parte exterior, social e pacifista, através da qual ele é reconhecido, ou pela interior e recôndita, que guarda segredos dos mais inesperados.
O tĂtulo Adeus, meu livro! Ă© tomado do parágrafo que encerra O dom, de Vladimir Nabokov. T. S. Eliot tambĂ©m está presente, citado e debatido. TambĂ©m Ă© trazido Ă baila Yukio Mishima, contemporâneo a Oe mas que se suicidou aos 45 anos em ato apoteĂłtico. Kenzaburo Oe perscruta algumas de suas ideias polĂticas que visavam romper com a ordem e instigar os militares a um golpe de Estado.