“Redescoberta” em seu próprio país, a argentina Sara Gallardo também começa a ter sua obra publicada do Brasil. A editora Moinhos publica em 10 de setembro o primeiro livro escrito pela autora, Janeiro, de 1958.
Na época de seu lançamento, o livro teve excelente recepção crítica. Após sua publicação, Sara esrcreveu Pantalones azules (1963), Los galgos, los galgos (1968), Eisejuaz (1971), e La rosa en el viento (1979), além do livro de contos El país del humo (1977) e obras infantis como Los dos amigos e Teo y la TV (ambas de 1974), Las siete puertas (1975) e Adelante, la isla (1982).
Sara Gallardo nasceu em Buenos Aires em 1931. Neta do famoso naturalista e ministro argentino Ángel Gallardo, bisneta de Miguel Cané e trisneta de Bartolomé Mitre, a extensa biblioteca da casa de sua família lhe abriu as portas para a literatura.
Além de sua obra literária, colaborou com as revistas Primera Plana e Confirmado, e o jornal La Nación. Sara Gallardo ficou à margem da literatura argentina durante muito tempo, ficando fora do que se chamou de boom latino-americano. No entanto, nos últimos anos, sua obra tem sido resgatada e considerada uma das mais importantes da literatura argentina.
Janeiro se passa no Norte da Argentina, na metade do século passado, argentinos e imigrantes trabalham na terra e com a terra em pleno verão ardente, sob uma aparente calma. É preciso cultivar os grãos, levar o gado para pastar, ordenhar as vacas, domar cavalos, cuidar dos porcos e da vida alheia.
É quase um hábito, assim como separar feijões, estender a roupa e dividir o mate. Por causa disso, a protagonista de Janeiro, uma adolescente de dezesseis anos chamada Nefer, anda muito angustiada. Desde o começo da trama, ela vive o terror de: o que será que vão pensar?
Nefer foi estuprada e está grávida. E como lidar com uma situação dessas e, ainda por cima, em uma comunidade que não tem e/ou nega acesso à informação, à saúde e a qualquer possibilidade de afeto? Logo chegará o tempo da colheita e, com ela também a barriga prenha, por conta disso, o corpo de Nefer, quase impróprio, só espera mesmo por um milagre.