Na manhĂŁ deste sábado (30), o Brasil perdeu uma de suas vozes mais emblemáticas. O escritor, cronista e humorista Luis Fernando Verissimo faleceu aos 88 anos, apĂłs permanecer cerca de trĂŞs semanas internado na UTI do Hospital Moinhos de Vento, vĂtima de uma pneumonia agravada por um delicado histĂłrico de saĂşde.
Diagnosticado com doença de Parkinson e portador de problemas cardĂacos — incluindo um marca-passo implantado em 2016 —, Verissimo tambĂ©m enfrentou um AVC em 2021 que deixou sequelas motoras e de comunicação.
O legado
Nascido em Porto Alegre (RS), em 26 de setembro de 1936, filho do também renomado escritor Erico Verissimo, Luis Fernando se tornou um dos mestres da crônica brasileira. Sua escrita leve, irônica e profundamente humana conquistou leitores por várias décadas, especialmente com crônicas publicadas em jornais como Zero Hora, O Globo, Folha da Manhã e Jornal do Brasil.
Entre seus personagens mais memoráveis estão:
O Analista de Bagé — psicanalista gaúcho com sotaque carregado e humor afiado (1981)
A Velhinha de TaubatĂ© — ingĂŞnua e cĂ©ptica, sĂmbolo da crĂtica polĂtica (1983)
Ed Mort — detetive sarcástico e cult (1979) cuja história virou quadrinhos e até filme em 1997
O sucesso de suas crônicas refletia seu talento em transformar o cotidiano brasileiro em literatura envolvente e espirituosa — um estilo que a revista Veja descreveu como “tirar um bom texto de qualquer miudeza”.
Produção literária
Verissimo publicou mais de 70 livros, vindos de uma carreira que começou nos anos 1970 com coletâneas de crĂ´nicas como O Popular (1973) e continuou em ritmo constante atĂ© o inĂcio dos anos 2020. AlĂ©m de escritor, foi cartunista, tradutor, roteirista, mĂşsico — apaixonado por jazz e saxofone — e colaborador consistente de veĂculos como Veja.
Suas crônicas foram adaptadas para múltiplas plataformas, dentre elas a série Comédias da vida privada (1994) na Globo — uma adaptação bem-sucedida a partir de seus próprios textos — e diversas outras incursões ao teatro, à televisão e até ao quadrinho.
Verissimo deixa angariado o carinho de leitores de todas as gerações. Sua obra atravessou os tempos com leveza e perspicácia, dando voz ao dia a dia com profundidade e empatia — qualidade rarĂssima na literatura contemporânea.