🔓 Elena Ferrante revela processo criativo em textos de não ficção

As margens e o ditado é composto por quatro textos em que a autora italiana traça paralelos entre importantes vozes femininas da literatura mundial
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16/12/2022

Em As margens e o ditado, a misteriosa escritora italiana Elena Ferrante fala sobre a própria jornada como leitora e escritora, além de oferecer um olhar sobre as origens de seus caminhos literários. O livro reúne três palestras, interpretadas pela atriz Manuela Mandracchia, por ocasião das Umberto Eco Lectures, e um ensaio composto para o encerramento da Conferência de Italianistas sobre Dante, lido pela estudiosa e crítica Tiziana de Rogatis.

É dos antigos cadernos de escola primária que a best-seller da “série napolitana” resgata suas primeiras lembranças de escrita. Naquele período, como toda criança, ela foi ensinada a escrever respeitando o espaço delimitado pelas linhas pretas horizontais e pelas duas margens vermelhas verticais ─ uma à esquerda e outra à direita ─ de cada página.

Não demorou para o seu gosto por organização ser desafiado pelo ímpeto de dissolver as margens que aprisionam a escrita e a própria natureza feminina. Nos textos, não faltam menções a algumas das principais referências literárias de Ferrante, em especial mulheres, como Virginia Woolf, Emily Dickinson e Gertrude Stein. Ela também cita livros que a inspiraram na hora de criar algumas das protagonistas que marcaram sua obra, além de contar como criou e quais as motivações de suas emblemáticas personagens Lenù e Lila, deixando pistas do quanto as duas incorporam o próprio dilema da literatura para a autora.

Além de discorrer sobre suas lutas e sua formação intelectual, Ferrante descreve os perigos do que ela chama de “língua ruim” e sugere maneiras pelas quais a tradição há muito excluiu a voz das mulheres. Partindo de suas brilhantes reflexões a respeito dos trabalhos de autoras notáveis, ela propõe, então, uma fusão do talento feminino.

As margens e o ditado
Elena Ferrante
Trad.: Marcello Lino
Intrínseca
128 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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