Depois do sucesso mundial de M, o filho do século, romance sobre a ascensão de Mussolini, vencedor do prêmio Strega em 2019 e publicado em 40 países, Antonio Scurati publica o segundo volume da série sobre o fascismo italiano, M, o homem da Providência. Em 2020, o autor falou ao Rascunho sobre seu best-seller.
O ponto de partida do novo romance são os desdobramentos do assassinato de um adversário político de Mussolini, o deputado socialista Giacomo Matteotti, principal ameaça para a crescente ditadura fascista. Um dos mais rumorosos crimes políticos do século, a morte de Matteotti fora encomendada por Giovanni Marinelli, então tesoureiro do Partido Fascista.
De Nápoles, Scurati é hoje colunista do Corriere della Sera e um respeitado escritor. Já ganhou os principais prêmios de literatura na Itália com romances históricos como Il sopravvissuto. Abordando o período de 1925 a 1932, o segundo volume da série, mostra desde as consequências das leis fascistas que desmantelaram o Estado italiano até o aniversário de 10 anos da Marcha sobre Roma, evento responsável, em grande parte, pela chegada de Mussolini e seu partido ao poder.
Permeando aspectos da vida social, política e espiritual do país naquele momento, a obra aborda os anos centrais do fascismo e a importância da aliança articulada pelo ditador com a Igreja católica.
O acordo mais crucial neste sentido foi o Tratado de Latrão, assinado em 1929. Com ele, a Cidade do Vaticano tornou-se um Estado, sede da Santa Sé; o catolicismo se transformou na religião nacional da Itália; e o ensino da fé católica passou a ser obrigatório nas escolas.
Por esse feito, Mussolini recebeu das mãos do papa Pio XI a Ordem da Espora de Ouro, a mais alta distinção concedida pelo Vaticano. A expressão “homem da Providência”, que dá título à edição original do livro, foi cunhada pelo alto clero ao se referir ao ditador.
Nos momentos finais dessa etapa de sua vida, quando, em 1932, Mussolini constrói o impressionante santuário dos mártires fascistas, o que seria uma homenagem ao luto passado já pressagia a dimensão da tragédia futura que desencadeará o colapso do regime fascista.