Escrevo essa crônica logo depois do lançamento de Uma história da arte (Cepe, 2023), em São Paulo, ultrapassando todos os limites razoáveis de entrega para o Rascunho. O Rogério, com razão, vai me matar.
Quando eu estava terminando, finalmente, de escrever o livro, entreguei o texto para uma pessoa da minha confiança que teve como único comentário o seu estranhamento com a minha assinatura “profa. dra.”. Acabei por concordar e achar meio babaca. Tirei. Entretanto, o complemento de que “nem o Argan assinava assim” me pegou a contrapelo. Ele não assinava assim porque era homem europeu. Como se não fosse ruim o suficiente, era branco, hetero, cis e foi prefeito de Roma.
Eu, mulher latino-americana, preciso provar tudo para todos, todo santo dia.
Cansa, viu?
Quando comentei que estaria/estava/estou nervosa com o lançamento, filho me disse: “Esse é um problema quinto filho”.
Fiquei com aquela cara de tela azul da morte.
“É como quando uma mãe vai ter o seu quinto filho. O médico está ali como goleiro. Ele só precisa pegar a criança. Ele e uma almofada dá no mesmo. Não se ensina uma mãe de cinco filhos a parir: é um problema quinto filho. É um não-problema.”
É na sintonia de ensinar a missa ao vigário, etc. Só que mais específico. É sobre valorizar a experiência.
Recebi com o carinho o que me foi dito, mas não apaziguou em nada a minha ansiedade. Sem contar capítulos, poemas, catálogos, artigos, projetos gráficos e ilustrações, esse é o meu sétimo livro. Não ficou nem um milímetro mais fácil.
Googlei procurando uma citação de alguém famoso que também fica nervoso com estreias, algum ator badalado, uma cantora da moda, sei lá. Não achei. Então insira aqui uma frasezinha condescendente e autoindulgente qualquer.
Começos são sempre difíceis.
Não é exatamente a mesma coisa, mas as minhas três músicas favoritas que abrem discografias (primeira música do disco de estreia) são, em ordem alfabética, como o mundo deve ser:
A banda (Chico Buarque, 1966);
Good times bad times (Led Zeppelin, 1969);
I saw her standing there (Beatles, 1963).
Ou seja, todas de antes de eu nascer. Pouco antes, é verdade, mas antes. Meu gosto musical foi formado, em grande parte, pelas músicas que meu pai ouvia ou tocava no violão.
Não faço ideia se o Argan ficava nervoso em lançamentos e, sinceramente, não dou a mínima. De minha parte, escrevo essa crônica pendurada no teto, transpirando adrenalina.
Talvez, lá pelo vigésimo filho/livro eu ache tudo tranquilo. Sei não.
PS. Hoje, 19 de janeiro de 2023, das 19h às 22h, ocorre o lançamento do Uma história da arte, na Travessa do Leblon, no Rio de Janeiro. Apareçam lá para me dar um abraço!