Quanto mais catástrofes
menos estrofes (…)
Durante dias, estes dois pequenos versos, de um poema mais longo chamado Anotações, de Cartografia do abismo, de Ronaldo Cagiano, perseguiram-me a ponto de nĂŁo conseguir avançar nesta obra. Há poemas que nos assaltam e paralisam face Ă s inĂşmeras questões que se nos apresentam. Será a palavra, na voz do poeta, incompleta diante daquilo que queremos expressar? A palavra metamorfoseada em poema Ă© suficiente para fazer a diferença diante das catástrofes cotidianas? Na verdade, nĂŁo existe uma questĂŁo nos versos acima, talvez uma inquietação do poeta, uma provocação ao leitor que deseja uma resposta, mas o que ele obtĂ©m sĂŁo mais perguntas e dĂşvidas que geram outras interrogações, num processo contĂnuo. A prĂłpria dĂşvida permanente Ă©, em si mesma, uma resposta, uma possibilidade vulgar de seguirmos um caminho, nesta cartografia de desejos (e abismos) sem fim Ă vista.
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