🔓 O TikTok do Lautrec

Em tempos de horror, uma lista divertida, inĂștil e um tanto ridĂ­cula das possĂ­veis redes sociais de alguns artistas
Ilustração: Denise Gonçalves
07/04/2022

Conversas que acontecem na minha casa:

— Hoje Ă© aniversĂĄrio do van Gogh!

— Liga pra ele.

— Mandei parabĂ©ns no Twitter. Se ele fosse vivo, certamente nĂŁo teria Twitter, mas…

— O Lautrec teria.

— Ora, por favor, o Lautrec teria atĂ© TikTok de dancinha.

DaĂ­ fiquei pensando em quais aplicativos alguns dos meus artistas favoritos teriam. Compartilho com vocĂȘs a minha compilação. A referĂȘncia bibliogrĂĄfica, naturalmente, Ă© “CABEÇA, Vozes da minha.”

Anita Malfatti: Pinterest.

Caravaggio: Tinder, Bumble, Happn, Badoo, OkCupid, ParPerfeito, Inner Circle, Grindr, Ysos, Feeld, 3Fun, 3rder, Swing’App, Swap. Todos em versĂ”es pagas e premium. AlĂ©m desses, usaria Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Snapchat, Youtube, Instagram, Pinterest, Discord, Telegram, Signal e 4chan.

Claude Monet: Facebook.

Diego VelĂĄzquez: LinkedIn.

Edgar Degas: Whatsapp, Vexter, Robinhood, Clubhouse e Leadr.

Édouard Manet: Teria uma conta no Facebook, administrada pela Victorine Mereunt.

Egon Schiele: 4chan e Signal.

Fernando Pessoa: Discord.

Francisco de Goya: Reddit, Pinterest, Youtube, Facebook.

Frida Kahlo: Blogger.

Henri de Toulouse-Lautrec: Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Tinder, Happn, Snapchat, Youtube, Instagram e Pinterest.

Jackson Pollock: Snapchat e Facebook.

Johannes Vermeer: Vakinha, Catarse e Kickante.

Leonardo da Vinci: Waze.

Michelangelo: “vocĂȘ me respeite”, disse ele ao ser perguntado.

Pablo Picasso: Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Tinder, Happn, Snapchat, Youtube, Instagram e Pinterest.

Salvador DalĂ­: influencer TikTok.

Victorine Mereunt: LinkedIn, contra a sua vontade.

Vincent van Gogh: NĂŁo teria nem celular. Usaria um telefone fixo ligado a uma secretĂĄria eletrĂŽnica com defeito. Sim, em 2022.

Esse exercĂ­cio Ă© tĂŁo divertido quanto inĂștil. Diria atĂ© mesmo, ridĂ­culo.

Lembro de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) e o Todas as cartas de amor são ridículas.

Ingressei em uma campanha pessoal, pequena, tola e, provavelmente, fracassada para devolver a poesia, a beleza e a brincadeira ao brasileiro. Esqueci de dizer que a campanha é também megalomaníaca.

Andamos tĂŁo surrados por fascistas comemorando um golpe que matou e mutilou, por governantes psicopatas ameaçando uma guerra mundial, por uma desgraça de vĂ­rus, por rinha de milionĂĄrio no Oscar, por… Por. Chega. Andamos surrados, maltratados, cansados.

Que venha a arte, o humor e o amor. Que venha o ridĂ­culo, o bobo, o leve.

Afinal de contas, sĂł as criaturas que nunca escreveram cartas de amor Ă© que sĂŁo ridĂ­culas.

Carolina Vigna

É escritora, ilustradora e professora. Mais em http://carolina.vigna.com.br/

Rascunho