Me machuco com a pinça, pelinho encravado dos infernos. Namorado, todo gentil, sugere que eu não tenho um bom ângulo para a tarefa. Mentira, explico. Vejo perfeitamente bem a idiotice que estou fazendo. É falta de inteligência, não de visão.
Acho engraçado quando dizem que conhecer o problema é metade da solução. Deve ser, para alguém. Eu preciso que o problema seja publicado no Diário Oficial, decrete um motim, assuma o poder e dance a Macarena bem na minha frente.
Cometo erros conscientemente toda hora.
Faltando dez dias para as eleições, entro em um Uber sem headfones.
Acreditei (uma vez só, me perdoem) no discurso corporativista de “estamos todos no mesmo barco, vamos fazer esse esforço etc. e tal”.
Mesmo morando em uma cidade que tem todas as estações do ano em um único dia, saio de casa deixando a janela aberta. Não por esquecimento, mas de propósito, para ventilar.
Instalei o Pinterest no celular.
Uso o mesmo copo para água de nanquim e para café, em cima da prancheta. Digo, usava até o desfecho óbvio. Se alguém estiver curioso, nanquim tem sabor de pedra, aroma Síndrome de Estocolmo, corpo austero, com notas de tristeza e taninos ásperos.
Em 2014, comprei uma bota pela beleza, não pelo conforto. Até agora, usei quatro dolorosas e inesquecíveis vezes.
Mesmo sabendo que preciso dormir, que não tenho tanto tempo assim e que tenho hora para acordar, deito com Corpo desfeito, da Jarid Arraes (Alfaguara, 2022). Impossível de largar. Quase perco a hora no dia seguinte.
Configurei o cartão de crédito no Kindle.
Desliguei o corretor ortográfico do celular. Prefiro cometer os meus próprios erros.
Decretei o meu voto em um grupo de whatsapp.
Gosto de viver perigosamente.
Erro que é erro de verdade é assim, proposital, com nome e sobrenome. Fazer sem querer pfff me poupe.
Dale a tu cuerpo alegria Macarena. Que tu cuerpo es pa’ darle alegria y cosa buena. Dale a tu cuerpo alegria, Macarena. Heeeeeeey Macarena!