Imagino que muitos autores hoje em dia ficam em dúvida se colocam seus textos na internet ou não.
A favor do sim há a publicação imediata e os elogios que afagam o ego, um dos pagamentos mais importantes da literatura.
A favor do não há a perda do ineditismo (o que impede a inscrição em concursos) e, talvez, de dinheiro, já que um leitor provavelmente não vai pagar pelo que já leu de graça no celular quando isso sair em papel.
É uma dúvida cruel.
Para ilustrar o caso, cito uma experiência interessante: peguei meu livro Papis et circenses, que conta a vida de noventa papas em pequenos contos, e fui colocando-os na internet pouco a pouco. Foi um fracasso. Mas tudo bem, porque em papel ele também foi mal: vendeu apenas mil e quinhentos exemplares.
Outra experiência: venho publicando no Facebook, na página Diário do Bolso, algumas crônicas. Algumas, não. Muitas. Já são mais de quatrocentas. Escrevo como se fosse o presidente Bolsonaro fazendo um diário particular, onde ele conta o que realmente pensa. Dessa página já editei, com financiamento coletivo, quatro pequenos livros de cem páginas (na verdade, os dois últimos, por conta da pandemia, saÃram em versão digital). Acho que já vendi mais de dois mil exemplares dos Diários do Bolso. Pensando que não ouve uma grande editora por trás, até que não foi mal.
Mais uma experiência: venho escrevendo, no Face o no Instagram, uma série de contos sobre a quarentena. Já são uns 130. No futuro espero cortar os piores, fazer mais alguns e editar um livro (por uma editora ou eu mesmo? Eis aà um bom mote para o próximo texto). Não sei se alguém comprará um exemplar. Na verdade, não sei nem se haverá alguém depois da pandemia. Mas foi terapêutico escrevê-los e publicá-los na rede.
Por outro lado, penso em fazer pequenos contos sobre a história do Brasil e nem penso em colocá-los na internet, mas apenas em papel. Acho que a ideia nasceu pensada para livros e vou ser fiel a ela.
Uma última experiência: publiquei uns contos sobre bibliotecas (cerca 150, no Face e no Instagram) e gostei muito do resultado. Publiquei porque estava com vontade de escrever sobre bibliotecas, não porque pensava em publicar um livro ou testar os textos. E tive um resultado feliz. Lembro que na época eu tinha uns dois mil amigos no Face. Mas a série atraiu um monte de professores, bibliotecários e gente que gosta de livro, e praticamente dobrei o número de amigos. Sem falar no prazer que é pesquisar sobre o tema, ler livros do Alberto Manguel, imaginar histórias com bibliotecas, que podem servir de desculpa para falar sobre leitura, conhecimento, liberdade, estupidez, literatura, poder, sexo (ah, a biblioteca de Gomorra…) etc…
Pois bem, relendo aqui estas experiências, acho que cheguei à sÃntese cientÃfico-empÃrica sobre a questão proposta pelo tÃtulo. E minha resposta filosófico-mercadológica é esta: se tiver vontade, publique. Se não tiver, não publique (ah, que coach o mundo está perdendo…).
Escrever e publicar parecem ser atos mais felizes quando são a realização de um desejo. Quando fazem parte de um plano para conquistar o mundo, não são algo tão divertido. E geralmente esse plano não dá certo.