O biólogo Mark Moffett diz que nos parecemos mais às formigas que aos chimpanzés porque somos capazes de frequentar cafeterias sem nos preocuparmos. Talvez ele não coloque a coisa exatamente nesses termos, mas estou resumindo.
Pouco animais — este é o ponto — são capazes de conviver tranquilamente com animais desconhecidos sem se sentirem ameaçados. Nós podemos entrar num ambiente fechado a quatro paredes, ficar na fila atrás de um grupo de estranhos, pedir pingadinho e uma torta de banana, abrir um notebook sobre uma mesa cercada de gente que nunca vimos antes e passar a tarde trabalhando sem medo de que alguém vá tentar roubar nossa comida ou ocupar nosso território.
Um chimpanzé, se adentrasse um café e enxergasse chimpanzés de outro grupo de chimpanzés, sairia correndo. Uma formiga, porém, faria o mesmo que nós: focaria nas suas tarefas de operária confiando que as outras formigas também estão ocupadas com suas obrigações.
Essa nossa habilidade (e a das formigas) é que os nos permite construir cidades e nações (e às formigas construir suas organizadas civilizações subterrâneas), mas é evidente que essa aparente tranquilidade é colocada em xeque regularmente. Se troco o cenário de uma cafeteria para um parque, já não tenho coragem de levar o notebook por medo de que ele seja roubado, o que, no meu caso, equivale a roubar minha comida porque é roubar a ferramenta que permite o meu sustento. Os laços civilizatórios que nos unem são frágeis: dependem das quatro paredes e, às vezes, de câmeras de segurança, alarmes e da boa vontade da força policial.
Nem preciso falar, então, das fronteiras, onde somos piores que chimpanzés. Não existe acordo social quando se tenta atravessar de um país pobre para um rico, de um país em guerra para um país menos em guerra, da avenida Paulista para o Vale do Anhangabaú.
Não sei dizer se o mesmo ocorre com as formigas. Podem as formigas migrar para outro formigueiro?* Talvez sejamos apenas chimpanzés bem equipados, mutuamente adestrados e sujeitos à força da ordem.
*É uma pergunta genuína a eventuais biólogos que se deparem com este texto. O Google não soube me responder.