Escriditor é uma palavra nova (pelo menos penso que a inventei agora, há uns dez segundos) para designar uma coisa que já vem acontecendo há algum tempo.
É que, com o surgimento de gráficas que fazem pequenas tiragens, com a popularização dos financiamentos coletivos e com a criação de impressoras caseiras baratas e poderosas, muitos escritores passaram a se autoeditar.
Em 2018, por exemplo, o ganhador do prêmio Jabuti de Livro do Ano foi Mailson Furtado, que autopublicou seu livro.
Antigamente, o sonho de todo mundo, inclusive o meu, era ter seu livro numa grande casa editorial. Claro que isso ainda é ótimo. Consegue-se mais visibilidade, uma distribuição muito mais abrangente, etc… Mas, ao lado disso, outro desejo de muitos escritores é fazer sua obra do jeito que deseja: escolhendo seu papel, seu tamanho, sua capa, lançá-lo quando quiser, sem esperar sua vez na fila, etc…
Meu primeiro livro (O Chalaça) foi publicado em 1994 pela Companhia das Letras. Foi uma emoção imensa colocar meu único blazer e receber os amigos na noite de lançamento. Mas me senti igualmente feliz quando, 24 anos depois, cheguei em casa carregando os 666 exemplares do Diário do bolso, primeira obra de minha modesta Padaria de Livros. E nas duas vezes suei bastante.
Gostei tanto desse negócio de edição que logo vieram mais dez livros (alguns apenas no formato digital). E agora editei meu primeiro livro infantil em papel: Castelos (vai aqui o mercham: acesse).
Foi bem diferente fazer um livro para criança. É algo muito mais complexo e divertido. O livro para adultos, talvez para maximizar os lucros, geralmente tem um formato padrão, com apenas uma coluna de texto e poucas ou nenhuma ilustração. Apenas na capa se pode usar alguma criatividade. Já nos livros infantis tudo pode ser diferente.
(Um parêntese: Os livros para adultos também podem e devem ser criativos. Nós, leitores maduros, também merecemos ilustrações, formatos diferentes e eteceteras charmosos. Algumas editoras já começam a pensar assim, mas são poucas e, no mais das vezes, pequenas.)
Minha ideia inicial em Castelos era fazer um tradicional livro vertical, no tamanho padrão 21 x 25 cm, com um texto e sua ilustração correspondente em cada página. Mas alguns desenhos ficaram tão bacanas que foi como se exigissem ocupar duas páginas. Só que aí teríamos o vinco, a dobra, bem no meio dos castelos. A saída foi mudar para uma página horizontal 28 x 21 cm. Ou seja, as ilustrações (do solerte Ivo Minkovicius) acabaram mudando o formato do livro. E também seu preço e seu número de páginas. E acho que o próprio texto acaba causando uma sensação diferente.
Outro exemplo: eu e Ivo estamos começando a fazer um livro sobre pontes. O rascunho estava indo pelo caminho do Castelos, no formato horizontal. Mas surgiu a ideia de fazermos um livro-sanfona (aqueles feitos numa longa folha dobrada) em que todas as pontes formassem uma única e gigantesca ponte. Estamos gostamos dessa nova proposta. Ela pede menos textos e menores. Um preço pequeno a pagar por um projeto mais desafiador.
Se eu apenas tivesse escrito os pequenos contos sobre pontes e o Ivo, feito as ilustras, provavelmente não chegaríamos nessa ideia. E teríamos nos divertido menos.
Enfim, o prazer de um escritor acaba quando ele entrega o texto ao editor. Já um escriditor tem um prazer mais profundo e mais longo.
(PS: Confesso que pensei em encerrar o parágrafo acima com metáforas envolvendo amor e sexo, mas deixo o trabalho para os leitores.)