Era assim que eu começava alguns textos nos meus tempos de cronista esportivo. Sim, jovem leitora e espinhento leitor que só me leram aqui nas redes sociais, por uma dúzia de anos escrevi sobre futebol na Folha de S. Paulo.
Às vezes, quando os jogos eram desinteressantes (ou quando o Santos perdia do Corinthians), eu preferia fazer uma ficção em vez de comentar a rodada. Então, em 8 de dezembro de 1999, Dia do Cronista Esportivo, recorri mais uma vez a este recurso e inventei que nossa data era uma homenagem a Aulus Lepidus, o primeiro cronista esportivo da história.
Tudo teria começado num dia em que Aulus Lepidus estava no Coliseu, vendo cristãos serem devorados por leões, e saltou para dentro da arena a fim de assistir ao confronto de perto. Ficou ali até que o último pedaço humano foi engolido e então correu para a redação do Acta Diurna, onde fez uma descrição emocionante da luta.
Para quem não sabe, o Acta Diurna foi o primeiro jornal da história e era colado nas paredes de Roma. Até então era um reles diário oficial. Porém, quando Aulus Lepidus introduziu a editoria de esportes, tornou-se um sucesso.
Aulus Lepidus passou a fazer reportagens diárias, ganhando fama, dinheiro e mulheres.
Aí é que começou o busílis. É que entre estas mulheres estava Flávia Faustina, que era casada com Marcelus Brunus, que, por uma triste coincidência, era quem alimentava os leões. Quando Brunus descobriu que sua mulher o traía, planejou uma suculenta vingança: não deu comida aos leões por vários dias, com o que Aulus Lepidus tornou-se, ao mesmo tempo, o primeiro mártir da crônica esportiva e uma sobremesa. Como sua digestão teria acontecido num 8 de dezembro, a data foi escolhida para homenagear a categoria.
Obviamente é uma história inventada. Mas os leitores de hoje são tão inocentes que encontrei Aulus Lepidus citado como verdade absoluta na internet. E não apenas em blogs particulares, mas também pela sisuda prefeitura de Porto Alegre e por sérias associações de cronistas esportivos, como as de Santa Catarina e do Ceará.
Acho que o pouco consumo de literatura faz com que as pessoas não percebam ironias, sutilezas, invenções. Faz com que não diferenciem ficção e realidade. E ninguém mais procura a fonte original, preferindo crer no que lê nas telinhas como se fosse verdade absoluta.
Assim a vida fica muito fácil para os fakenewzeiros. Tsc, tsc, tsc…