Poemas de Moisés Alves

Leia os poemas "Aquáticos", "Susi in transe" e "Sânscrita"
Moisés Alves, autor de “Cadernos de artista”
01/02/2021

Aquáticos

antes de tudo
havia um começo
onde coisas já eram sobras
de coisas e atravessavam
umas às outras

quero saber
em que ponto exato
eu e você começamos
em qual gesto
qual ausência de gesto
qual falha de movimento
você se torna meu cúmplice
naquilo que avança e emperra

trata-se
é lógico
do que só se mostra
na invisibilidade absoluta
no breu das formas

em que ponto o começo se dispara
em sua mão na minha nuca
e faz trama
e depois resto

tudo trama
cheiros espaços físicas calafrios

um começo é sempre
um engano se não for tomado
como emaranhado
de fios levantando
a âncora

você disse
tenho certo pavor
que você me ame

tenho certo pavor
em olhar no seu olho
e constatar a força
do que está chegando

o que está a caminho
continua
não deixa de continuar
nunca

…..

Susi in transe

desenhe no chão
de sua sala uma floresta
agora tire acessórios
vestimentas
entre

cuidado
para não apagar
com sua pressa a vida selvagem
do que virá

…..

Sânscrita

sua cabeça
cheia de pássaros

até que um dia
um pássaro se desconcentra
e me ataca
tenho tanta coisa presa que voa
imagine um pássaro de fogo
atravessando o centro dessa cidade
quando eu e outras putas vendem seus fogos
quero juntar uma revoada
na outra até descosturar
fios que prendem uma casa
uma cabeça um amor                        um filho no outro

muitos pássaros
pousados em poemas
alguns tombados
junto a árvores
mas aí não são
mais pássaros
dessa terra

Moisés Alves

Nasceu em Salvador (BA), em 1982. Publicou os livros de poesia Cadernos de artista, Onde late um cachorro doido, Coisas que fiz e ninguém notou mas que mudaram tudo e Escrito e dirigido por Moisés Alves. Em 2018, foi contemplado por uma bolsa do Goethe-Institut para uma temporada em Berlim, apresentando seus poemas no 19º Festival de Poesia da cidade.

Rascunho