Três poemas de Mariana Paiva

Leia os poemas inéditos "Menina", "Ô de casa" e "2020" da poeta baiana
Mariana Paiva, autora de Barroca. Foto: Iracema Chequer
01/08/2020

Menina

sonhava de pé descalço
os cardápios de minha terra
imensidão de mar acontecendo
areia amiga

saudade quando vem eu espanto
com aquela lembrança de sol
e água transparente:
tristeza é de não abraçar

minha vó, galho de planta na mão,
rezando baixinho e humilde:
o que for ruim
que leve a maré de vazante

 

Ô de casa

já tive o que chamam
olhar de versos.
sentia na boca
o gosto azul das balaustradas
o vento
sábados em plena segunda

sei que tive
porque guardo cá comigo
pequenos souvenirs:
uma palavra maybe meio bamba,
uma miniatura tão amarela que quase brilha

se o silêncio cresce,
bato na porta,
chamo alto, faço alarde.
lá no fundo a voz que quero responde:
já vai

 

2020

novos jeitos de estar perto
ainda são longe
e a pele?
o que é feito dela,
agora sem vez,
nesses tempos estranhos?

tantos anos e nenhum
ensinou a esquecer a pele,
esse oceano de matéria
que ainda espera um toque
não previsto no novo jeito
de estar perto
que ainda é longe

nesses tempos estranhos
o que é que consola a pele?

Mariana Paiva

É baiana de Salvador, escritora, jornalista e professora. Autora dos livros Vermelho-Vida (2018), Canto da rua (2016), Damário Dacruz: Um homem, uma surpresa (2015), Lavanda (2014) e Barroca (2011).

Rascunho