Por 1.260 dias
Toda manhã
dispõe braços e pernas.
Dobra ilusões
e inaugura mil tsurus.
O desejo conspira.
A vida despeja,
pode deixar o quarto.
Onze horas
Ficar a sós com seus ossos e cabelos.
Compreender as articulações
empresta fios ao movimento.
A poltrona escolhe o sol.
Até que a carne termine seus preenchimentos,
calça o sapato negro e ensina luto aos pés pequenos.
Rota 86
Ao centro,
sentada à cama,
a mulher posa
mala e corpo.
E algo nos olhos cala
a tragédia que provocou.
Sabe, eloquente,
que o inferno de uma vida
entre quatro paredes
será iluminado
pela luz do mundo exterior.
Lá fora, o carro aguarda
a velocidade dos seus sapatos.