Poema de Gabriela Verónica Gonzales

Leia o poema "Impressões"
Ilustração: Rettamozo
01/02/2011

Tradução: Ronaldo Cagiano

Impressões

Voar com asas quebradas
sorrir já sem dentes,
comer sem estômago,
amar com correntes,
morrer já sem vida,
rezar sem fé,
negar a existência
de um rancho sem teto
amar às escondidas
e crer que se ama.

(…)
Meus pés são garras,
estrias escavadas
em poços de consciência.

Eu te olho…
testa franzida
que espreme pensamentos
pressentimentos, esquecimentos.
Carne suave
Frágil, servil.

Que sois
senão um desejo
que se afoga
na parede?

Mas as paredes duram pouco,
o medo dura pouco.
Besta que carrega todos os dias
Homens que carregais os dias…

Basta de bestas!
basta de homens
basta de esquecimentos!

(…)
Temos ouvido que só uma ferida
acalmará outra ferida

Então apunhalemos o fraco em sua
fortaleza
esmaguemos o inocente em sua inocência

que o sangue está
chamando
por nós!

(…)
Estremeço
diante da chuva cósmica de escuridões.
Caímos para sempre
mas não morremos, isso é terrível.
E este medo
a viver amanhã
para seguir carregando
com os cadáveres
de nossos sonhos.

Gabriela Verónica Gonzales
Nasceu em Rafael Calzada, Argentina, em 1969. É autora de Persona frágil (2001).
Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

Rascunho