Poemas de Elizabeth Bishop

Leia os poemas "Grudados grudados noite afora" e "Canção do café-da-manhã"
A poeta Elizabeth Bishop viveu em Ouro Preto (MG).
01/04/2009

Tradução: Carmen L. Oliveira

Grudados grudados noite afora

Grudados grudados noite afora
Ficam os amantes.
Eles se reviram juntos
No seu sono.

Unidos como duas páginas
Em um livro
Cada um lendo o outro
No escuro.

Cada um sabe tudo
O que o outro sabe
Aprendido de cor
Da cabeça aos dedos dos pés.

Canção do café-da-manhã

Meu amor, minha redenção,
Teus olhos são de um azul assombroso.
Beijo teu rosto folgazão,
Tua boca com tempero de café
Ontem à noite dormimos juntas
Hoje te amo tanto
Como vou suportar partir
(como logo preciso, eu sei)
Para a cama feia da morte
Naquele lugar frio, asqueroso,
Dormir lá sem ti,
Sem tua respiração suave,
Teu calor ao longo da noite, ao longo do corpo
A que estou acostumada?
— Ninguém quer morrer;
Diz que é mentira!
Mas não, sei que é verdade
É tão-somente um caso comum;
Não há o que fazer.
Meu amor, minha redenção
Teus olhos são de um azul assombroso
Um azul instantâneo e persistente.

Elizabeth Bishop
Nasceu em Worcester, Massachusetts (EUA), em 1911. Teve infância e adolescência tumultuadas, com a morte do pai, a loucura da mãe e a vivência em regime de internato. Em 1929, com 18 anos, escreveu Ser sozinho, em que reconhecia a dor da solidão como “estar parado na praia, de costas para o mar, e gritar por companheiros”.
Carmen L. Oliveira

É autora de Flores raras e banalíssimas — história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop (Rocco), que inspirou o filme de Bruno Barreto Flores raras.

Rascunho