A divisão de Teia em três partes — Ofício, Teia e Trilha — mostra uma insegurança poética de Cristina Bastos, que se perde numa vazia e desnecessária tentativa de explicar-se. Ao abrir o livro, avisa que, como os ratos que devoram os livros, “se alimenta de letras e riscos”. Mas as letras são escassas e os riscos, muito grandes, até mesmo ao escolher um título já utilizado pela selvagem Orides Fontela, nas palavras do poeta e dramaturgo Celso Alves Cruz. A desigualdade é marca no espaço percorrido, desde os primeiros versos — alguns de beleza inegável (“Por mais que tente/ não fico menos/ transparente”); outros que preconizam o caminho percorrido (“quando nada há/ digo o vazio/ e findo”) — até os raros momentos de maior alcance, como “máscaras morrem/ quando postas sobre a mesa”. Tais percalços prejudicam, e muito, o andamento da breve obra a partir das vãs explicações sobre o ofício poético.
Ao mergulhar na parte Teia, a poeta tenta desvencilhar-se de algumas amarras que tanto a incomodam, para, enfim, seguir o seu caminho. Se neste miolo imperam as agonias de um ofício já devidamente explicado, os versos seguintes de Trilha tentam encontrar um rumo, que se mostra bastante nebuloso, sem saídas satisfatórias. Nem mesmo a agonia dessa busca é capaz de amenizar a decepção de um começo cambaleante. Uma pena, pois há belos momentos, principalmente quando a morte é o centro de sua poesia: “pela manhã/ o inimigo está morto// a espada sem sangue/ aquece minha mão”.
É nessa irregularidade, cujos traços são fortes e repetidos, que nos perdemos, num misto de insatisfação e decepção e sentimo-nos como a poeta nos avisa: “Somos quatro no circo/ ansiamos devolver o ingresso”. O espetáculo não entusiasma e burburinhos são ouvidos em todos os cantos sob a lona abafada.