O mundo que pulsa do lado de fora da janela do carro — com suas sombras gordas e assustadoras — impulsiona a poesia de Fabio Weintraub, em Novo endereço. Há uma vontade encalacrada de expulsar o inevitável: a violência, a torpeza de tantos erros, a banalidade da existência fora de foco. O olhar que percorre a vida — essa vida verdadeira, pesada, onerosa, dura; longe da segurança (?) pequeno-burguesa — espanta-nos em versos entre a plena desilusão (“As pulgas desprezam meu cão” ou “mas lamento que na época/ não tivéssemos ao menos/ um gato magro e disposto”) e a gana de ainda respirar (“vestir noutro dedo/ o anel alheio”). Há, sim, uma esperança, sempre que entortamos as esquinas, cujas curvas acenam uma saída, por mais sufocados que estejamos. O sentimento de agonia é companheiro fiel na poesia de Weintraub.
Os caminhos aqui percorridos — por entre arranha-céus e seus tentáculos — levam-nos, além das verdades tão prementes, a um sentimento de perda, de falta, de um imenso vazio cravado em cada passada. Desde o distanciamento da mãe (símbolo máximo do amor): “Minha mãe suplica:/ precisa de talismãs/ pra passar a noite fora de casa/ Só assim ficará protegida/ o Inimigo não a tocará”. É com o sentimento de perda, de mãos dadas à escuridão, que deambulamos por entre os versos. A perda está consumada, mas não é inútil resistir. Seguimos com passos firmes por este mundo “onde a fome devasta a fronte/ de um camundongo cego” e nos afastamos cada vez mais em busca, talvez, de uma resposta que nos conforte. No longo périplo, encontraremos, se não respostas, personagens de nosso cotidiano: a prostituta, o mendigo, o menino de rua, o desconhecido, o medo. Todos confundem-se nessa poesia de cortes precisos, de imagens fortes (algumas forçadas: “sem pedágio ou limite/ de felicidade”), mas com a certeza de que lidamos com o inevitável. Novo endereço é um canto agônico, tão presente em nossas andanças que soa como nosso, de cada um de nós. É um forte olor de despedidas, que começa com a perda da mãe e termina no distanciamento do amigo — amor maior longe dos laços familiares: “Mas hoje estamos exaustos/ há um dreno em nossa bondade:/ minha boca só tem dentes/ e meu amigo/ está mais magro”. Faltam-nos dentes para sorrir.