1. Nelson se esqueceu de como é necessário puxarmos saco alheio, alhures. Mas eu não me esqueço: Nelson, só assino mesmo a Rascunho que é para ler seus aforismos solidários.
2. Comecemos do início: em relação ao artesanato do poema, sugiro uma gloriosa e cabeluda PANTURRILHA. Já na virada prosaica de um personagem, sugiro, como Bolaño o fez, decepar a mão direita do pintor destro, para que ele recomece tudo novamente, selvagemente, agora com a mão esquerda. Há, de lambuja, um evidente conselho político nessa amputação.
3. Em relação aos críticos, acadêmicos, políticos e monges, segue o melhor conselho, o de Gabriel Garcia Márquez: “a beleza está em dinamitar nossa própria estátua”.
4. Antes da pronúncia correta, Ilda Ilst requisitava ser lida (lida, aquela lida):
É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.
5. Antes da pronúncia correta, Osváldi de Andrade requisitava abolir os bons modos, e como está na moda, segue seu ready-made:
Biblioteca Nacional
A Criança Abandonada
O Doutor Coppelius
Vamos com Ele
Senhorita Primavera
Código Civil Brasileiro
A arte de ganhar no bicho
O Orador Popular
O Pólo em Chamas
Pau-brasil,1925, Oswald de Andrade
6. Há, evidentemente, uma estratégia de sucesso quando confessamos nossas grandes influências por obscuras trovadoras chinesas. Porém, mais eficaz e milagroso é se apaixonar por uma delas.
7. Você recomenda resignação à tentativa de domesticação dos editores. Mas Nelson, editores não existem mais.
8. Plagiar é necessário, como você bem o faz na dica de número 5 – aquilo é Borges, seu safado!
9. Concordo sobre o seu nada, sobre o seu Machado, sobre o seu Kafka. Discordo sobre os 26 dias necessários para se criar o romance de 500 páginas em total estado de transe místico: um fim de semana e cogumelos adequados é mais do que suficiente.
10. Em relação à biblioteca pessoal, principalmente às inúmeras edições de Dom Quixote ali na última prateleira que sempre soam disparatadas até aos amigos verdadeiros, creio que o melhor a se fazer é queimá-los (os livros, evidentemente) todos no quintal, no meio da madrugada, e reunir, então, as cinzas sagradas, engoli-las e compor um único, sincero, e selvagem poema decente. Fodam-se as visitas! Aliás, escritora de verdade não recebe visitas, muito menos visitas tacanhas. Fiquem em casa!