Se o narrador de Alma-de-gato soubesse realmente o segredo do romance, talvez ele não escrevesse, mas ele — talvez até por não ter outra opção — ousa narrar. João do Silêncio, alter ego de Flávio Moreira da Costa, com o auxílio luxuoso de Franzkafa dos Santos, desconstrói o que foi, era e poderia ter sido o romance por meio de um ousado projeto. Com rádio ligado, itálicos e negritos acionados, ora, pois, fez o romance que não existia antes, até para poder lê-lo impresso que foi pela Gráfica Ediouro, em papel pólen soft.
Imagine um livro que é fruto da reflexão de um autor-narrador que comenta o que está escrevendo enquanto escreve. É possível? Claro que é. Aldara, a Macondo de Moreira da Costa, recriação de sua Livramento (RS) natal, ganha espessura. Pode ser tudo, pode ser nada, da mesma maneira que um jabuti, sem saber de nada, saiu de cena da história e, bem mais tarde se transformaria, pela intervenção da Câmara Brasileira do Livro, em prêmio, nem tão polpudo como o Portugal Telecom hoje é realidade nos R$ 100 mil e o São Paulo nos R$ 200 mil.
Alma-de-gato também é um grande intervalo, fragmentos, poemas e prosa. O livro é um romance assim como todo romance que se preza é algo que parte do zero, inventa e reinventa o próprio gênero. O livro é uma discussão sobre o que é o romance, assim como foram e são Os ratos, de Dyonélio Machado, Grande sertão: veredas, de Rosa, Ulisses, de Joyce, Dom Quixote, de Cervantes e tantos outros, como Fábio Campana fez em Ai, e o Brasil literário, como costuma fazer (canalha que é), ignorou por inveja, despeito, ignorância e truculência.
Sabe, caro amigo com quem não falo mais, e até você, inimigo que foi manipulado por idiotas e pensa que te fiz mal, sempre procurei ser a mesma pessoa, fosse quando passava pelos corredores e gabinetes dos governadores, fosse quando pisava o chão de folhas e húmus da floresta, ou quando entrava como amigo das ocas indígenas, nos maus quartiers e palácios europeus, etc. Conversei com ministros, presidentes e reis; bandidos, ladrões e assassinos; convivi com peões, matutos, malfeitores, soldados e pajés e índios, muitos índios, e poetas e loucos. Tratava as autoridades com naturalidade e os índios com certa cumplicidade, aos sonhadores como irmãos.
Ei, Flávio, assim como você, e um editor e escritor aqui de Curitiba, quando estou angustiado, também entro numa livraria e melhoro. A menos que encontre algum professor de literatura, desses pernósticos, que sempre tiveram vontade de escrever, mas impotentes que são para o ofício, apenas ensinam, assassinam a literatura, e invejam e tentam diminuir o Wilson Martins, o mais importante crítico da literatura brasileira, mais importante que todas as instituições que ensinam literatura no Brasil. Por que será que os idiotas e semiotas fazem campanha contra o Wilson Martins? E os frustrados que se acham mais importantes que livros e querem destruir autores e obras em resenhas colegiais?
Alto risco
Será que alguém nunca pensou em escrever um livro que fosse o livro de um livro que nunca seria? Alma-de-gato rompe o que está previsto: é alto risco, instável, experimental, compulsão, derrame, veia desatada, o que nenhuma represa consegue segurar. Esqueça as teorias, o conforme, e o pseudo vanguardismo paulistóide, nada disso: lembra mas não é diário, parece confissão mas tem o filtro literário, e aí: se você é professor de literatura, que tal abandonar o texto. Hein!? Se és resenhista onanista, que precisa de Viagra, se achas melhor que as obras, fora daqui, hein. Se manda, trouxa. Se acha que a ironia é algo, suma, mané (vá crucificar o boi). Se achas esperto?, aqui em Curitiba, ó trouxa, vai ser irônico lá na Vila Zumbi, fora, trouxa, universiOtário, fora espertalhão, e todo os panacas da região da reitoria que consideram o Rascunho algo menor, lixo pra vocês, sumam, não escutaram, olá?
Aqueles que lecionam literatura brasileira esquecem de que a memória é a essência do humano. Malas que lecionam literatura brasileira em universidades estaduais e federais, em torno de 99%, querem ser escritores, todos impotentes. Para cada Cristovão Tezza, que vive no Paraná, temos aquele restante que vocês sabem quem são, só ensinam, tentam cagar na cabeça dos alunos, medianos, ei, lembre-se, tenho advogado, da pesada, se vierem, terão mais do que pensam, trouxas (que tal um desafio, hein?). São Jorge está comigo, entre outros, querem ver?
O que é felicidade, brucutus? O que é superficialidade, cambaduta? Quando um escritor está em crise, o que é que ele faz? Escreve sobre um escritor que está em crise. Mas por que não me chamar de ser humano, bem antes de me chamar de escritor? Um ser humano em crise que, entre outras coisas, e quando consegue colocar a cabeça e um pouco para fora dela, da crise, escreve. Se não tem coragem, vai dar aula de literatura, aqui no Brasil. E, por ser idiota, logo, logo o imbecil começa a falar mal do Wilson Martins, que é o mais inteligente, o melhor leitor do Brasil, o mais culto, refinado e teve um polaco burro, clone do Leminski, que fez uma série contra: o polaco analfabeto, que do Leminski tem só o bigode, quis matar o Wilson Martins, pode? O panaca, e os clones, que dizem que Pedro é Pedra, o que justificaria o trocadilho, mal sabem que a Bíblia não dá trocadilho no idioma que foi escrito: panacas de Curitiba, lixo pra vocês.
Sabe, trouxarada: ter a alma de Frankenstein é bossa. Um idiota vai perguntar: mas o que você quis dizer com isso. O panaca, psicoanalisado, quer saber dos porquês, mala, sabe, o burro quer saber motivos, o idiota que jamais pensou deverá querer encontrar aqui uma resenha: mas isso não é uma resenha? O débil vai reparar que tem agressividade aqui, o toupeira, até mais otário do que eu, sem saber, ora direis, ouvir um psicanalista (lixo?). Alma-de-gato é obra para espelhar a vida do autor, do leitor, é uma nova maneira de escrever, e quase 6 mil caracteres se fizeram, tchau, patrulheiros, repressores, todos que foram massacrados e não sabem o que é o vau da vida: liberdade — Flávio Moreira da Costa sabe dessas nuances, provou, outra vez, ser grande artista, adeus.