A voz de Pedro Amaral é suave, calma, percorre diversos caminhos, sem se perder numa algaravia polifônica e pretensiosa. Nestes tempos em que imperam enxurradas de versos brancos — como há quem pense que poesia se faz de breves frases no papel perdido! —, o poeta embrenha-se pela rima, sem que esta se torne artificial e forçada. Tudo neste singular Breve encontro soa como a medida certa de toda a poesia. Não há o excesso, não há o que lapidar — a sensação de conforto impera ao longo da leitura, neste “ritmo obstinado da faxina”, como adverte o poeta logo de início. O sentimento de limpeza nos impregna a existência: “De tudo, o que ainda prefiro/ É aquilo que seja verdadeiro/ — Prefiro, a um higiênico/ Sorriso, a mácula de um apupo,/ Ou de um apelo”. Do entrelaçar da palavra com a vida — sem explicações em excesso — nasce a força poética de Amaral. Uma força que se espalha uniforme por todos os versos (os escorregões — encontrados, principalmente, em O morto — são mínimos e aceitáveis), pois todo o conjunto soa como um afinado canto. E neste canto, abrem-se volumosas brechas pelo silêncio, lancinante como a suavidade arrebatadora. As incursões silenciosas ficam expostas, sem que se escamoteiem seus significados. Estão ali para preencher os versos, para dar sentido ao dito, para escancarar a voz que se sobressai na imensidão, até mesmo quando o silêncio é negado: “Não insurja, pois, no silêncio/ — Intraduzível, sempre —, O sentimento abissal”. Pelas falas entrecortadas, acompanha-se a vontade de resguardar os silêncios, em uma partilha com o leitor: “Como um lado do lar,/ Melhor dizer, de sua vida,/ Que não se abre ou publica:/ Resguarda as coisas não ditas”. Mas a placidez de Amaral não é complacente. Muito pelo contrário. Há uma indelével força de insatisfação, de crítica ao superficial, ao frugal: “Quis não querer ouvir de poesia,/ Nos verseiros, não via sua família:/ ‘Não quero estar entre os boçais/ Que verborrageiam nos jornais’”. Nessa seara, em cujo centro transpira uma desilusão, encontra-se o talento de Amaral. Sua voz suave e calma também atinge a aspereza necessária, sem perder o encanto.