Adoro a escrita do imediato.
Como estou, agora, escrevendo.
E você está, agora, lendo.
Nada mais ocupa nossas mentes, a não ser eu escrevendo, e você lendo.
Embora, há alguns meses, eu tenha me descuidado; acima do peso, me culpo de estar sentada diante do caderno, no meu escritório, quando poderia caminhar nas ruas tranquilas do bairro, neste domingo de sol, e recuperar um pouco a forma física.
Pois é domingo, deixo claro agora.
Talvez você não saiba que escrevo estas crônicas alguns dias antes da publicação, pois os ilustradores precisam de tempo para compor as imagens graciosas que acompanham os textos.
Costumo escrever às segundas-feiras. Deixo o texto descansando por uma noite, releio na terça pela manhã, e envio para o Rascunho.
Porém nesta semana — te conto agora — tenho a agenda cheia de pequenos compromissos (da vida, do trabalho), e me ocorreu que adiantar a crônica, deixá-la já quase pronta neste dia do Senhor, poderia tranquilizar um pouco minhas horas futuras e sobrecarregadas. Mesmo porque — confesso, e talvez alguém entre vocês se identifique nessa confissão — raramente faço exercícios aos domingos. Caminhadas, para mim, são tarefas, reservadas aos dias úteis.
Portanto, com o traseiro meio amortecido pelo excesso de cadeira (o que não deveria escrever, em nome da elegância, e apesar disso escrevo, por compromisso com o agora), estou aqui, já na segunda página do caderno — mais especificamente, a nona linha do verso da folha —, arrastando a caneta azul, e tentando controlar minha letra para que não se torne ilegível.
De costume, às segundas-feiras (meu dia habitual das crônicas, como explicado), uso o computador para escrever. O que simplifica os processos: redigir, revisar, enviar. Porém, por ser domingo, ligar o computador me causa desgosto. O caderno — este, especialmente, de capa dourada — é mais amistoso e artesanal; traz memórias da escola e da infância, quando fui feliz — tanto na escola, quanto na infância — e cai bem aos domingos relembrar tempos alegres.
Alegres ficamos agora — eu e você — com tal evocação.
E finalmente, antes que me esqueça, devo destacar um último aspecto desta crônica que se encerra (o que você poderá adivinhar, baixando o olhar, e conferindo o fim das linhas preenchidas): os apartes. Você terá notado que este texto a todo momento, talvez até em momentos demais, é interrompido por observações enxertadas entre parênteses e travessões.
Agora reclame: é a sua oportunidade. Queixe-se (mentalmente ou em voz alta) que tal estilo é irritante, e eu poderia muito bem ser mais rigorosa na revisão, limpando minhas frases já bastante vazias desses acréscimos que não acrescentem nada.
Aguardo enquanto você — com razão — desabafa.
E me preparo para finalizar a crônica, acima do peso, num domingo, instalada na cadeira, com o sol claro lá fora, depois de alguns dias nublados.
Lembro afinal que sábado passado houve um eclipse. Que não pude ver, pois o céu estava encoberto. E hoje, que o enxergo, falta um fenômeno astrológico sublime a ser testemunhado a olho nu.