Tenho lá o meu jeito de lidar com anos vindouros. A noite da passagem é sempre um turbilhão de pensamentos, misturo passado com presente, fico relembrando o que aconteceu, projetando ao mesmo tempo os dias que se iniciarão em janeiro. Há sempre certo vazio, sensação de que sobraram pendências, eu deveria ter correspondido mais às minhas próprias exigências. No final, a nota que dou a mim mesmo é o suficiente para passar para mais um período. E então, assim devendo, desgostoso com a produção chinfrim realizada, passo. Vislumbro o futuro, mais uma dúzia de meses. Faço então projetos e tenho, naquele momento, ouvindo os fogos de artifício pipocarem no céu, confiança de que agora será diferente. Estufo o peito, exercito a capacidade de acreditar, gravo na memória tudo o que pretendo fazer, anoto em algum lugar, sigo.
Gosto de tatuagens. Nunca me arrisquei a fazer alguma por considerar ser coisa de jovens. Mas está lá em minhas anotações, em 2025 gravarei alguma coisa no corpo. E como sou sujeito nostálgico, dado a sentir saudade de amigos e familiares ausentes, como de meu irmão, por exemplo, que perdeu batalha para um câncer no último mês de agosto, tenho a intenção de registrar por escrito na pele alguma coisa condizente com minhas preferências literárias, uma frase capaz de refletir meu atual estado de espírito. Apelarei para Drummond. Com caligrafia caprichada enfeitarei o antebraço esquerdo com: A ausência é um estar em mim.
Está acertado, combinado com o Eduardo Lacerda, editor da Patuá, publicarei meu primeiro romance para adultos: Toda poeira da calçada. Depois de trinta e dois anos lançando livros para crianças e jovens, além de crônicas, finalmente crio coragem para enfrentar um gênero mais difícil, preferência nacional. Já ouvi que se o escritor não se mete com romances, não pode ser considerado escritor de fato. Pertencer à minha família tornou escrever um susto. Precisei de tempo para arriscar assinar o sobrenome Ramos. Meu avô e meu pai, sem saberem, dificultaram muito minha vida. Agora, depois dos setenta, talvez um pouco mais adulto, enfrento a possibilidade de opiniões desfavoráveis em um texto longo com humor. Se não gostarem: paciência! Para não soltar logo um palavrão, afinal convém ser bem-educado.
Continuarei sendo presidente da UBE (União Brasileira de Escritores). Lá, além do prazer de conviver com uma diretoria formada por amigos, poderei participar de projetos que interessam aos escritores, promoverei a entidade e darei a ela a maior visibilidade possível.
E torcerei para que se faça justiça na política. Coisa rara em nosso país de anistias incompreensíveis, imorais, dolorosas.
E dando os trâmites por findos, afinal começaremos um ano novo e ele está aí, urge, é sempre bom lembrar que amanhã será outro dia. Melhor. Só me resta esperar, com a força do coração, um 2025 bacana para todos os leitores. E se o número, a Matemática ensina e garante, é um quadrado perfeito, resultado da multiplicação de 45 por 45, que a perfeição esteja então em cada dia da jornada.
Voltando, não custa, ao poeta de Itabira, pedimos humildemente, a quem lá que seja, poucas e pequenas pedras no caminho. Pedregulhos.
Feliz 2025!