Acho muito estranho um escritor escrever uma crítica sobre outros escritores. Ainda mais se os dois estiverem vivos. Não me parece muito ético. Sempre desconfio que há um certo cabotinismo nisso (alerta de palavra fora de uso; mas não precisa gugar, “cabotinismo” quer dizer algo como “tendência a tentar atrair a admiração dos outros” ou “exibicionismo sem grande mérito”; enfim, “picaretagem oportunista”).
É que, se o escritor critica o outro escritor negativamente, isso me soa como: “Estão vendo como eu acabo com esse cara? Isso é porque eu sou muito melhor que ele. Deem um like em mim, comprem meus livros e me convidem para debates. Meu telefone é…”.
Por outro lado, caso se derrame em elogios a outro autor, é como se dissesse: “Viram como esse cara é bom? E viram como eu sei que ele é bom? Isso é porque sou tão bom quanto ele. Me dá um premiozinho?”.
Sei que os escritores podem, em tese, ser bons críticos, porque, afinal, escrevem o tempo todo e pensam nisso com afinco, até com obsessão. Mas temos uma visão naturalmente parcial. Eu, por exemplo, sou simpático ao humor e tenho pouco afeto pelos dramalhões. Se o começo do livro traz uma cena exageradamente trágica, já penso: “Tá, tá…, mas e daí? Toda vida é uma sequência de desgraças e acaba sempre em morte. Isso eu já sei. Me conta uma piada nesse intervalo, por favor…”.
Além disso, há as amizades e as inimizades. Somos egocêntricos e adoramos fazer panelinhas. Um escritor dificilmente vai falar mal da obra de um amigo. E, mais raramente, ainda dirá algo de bom sobre o inimigo (eu, pelo menos, nunca vi).
Por isso, não me fio muito nas críticas dos escritores. Eles são melhores escrevendo outras coisas. Confio mais nas críticas dos leitores, dos acadêmicos e dos críticos (que até são chamados de “críticos”, e isso deve ser por algum motivo).