Antes de começar a escrever este texto, eu estava autografando os exemplares de As bibliotecas fantásticas, vendidos no “craudifandim”. São bem uns trezentos. E, enquanto lia os nomes dos leitores, ficava imaginando como seria cada um deles.
Por exemplo, quem será Bruno, de Igrejinha (RS)? Como chegou até meu livro? Será que é um vetusto senhor que leu O Chalaça trinta anos atrás ou um rapaz que há poucos anos lia Chapeuzinhos Coloridos? Pensou que meu livro fosse um guia de decoração ou trabalha numa ONG que instala bibliotecas pelos rincões do país?
É claro que entre os leitores há alguns amigos que conheço. O Carlos, por exemplo, eu intimei a comprar As bibliotecas…, mandando mensagens por direct, messenger e e-mail. Achaquei mesmo. Com uma ponta de constrangimento, confesso, mas uma pontinha de nada. Será que ele vai receber o livro e lê-lo com atenção ou vai colocá-lo na estante, com a sensação de dever cumprido, sem jamais abrir suas páginas?
Continuando pela letra C, passo por uma Camila. É uma bibliotecária. Ou seja, uma leitora especialista no assunto do meu livro. Será que ela vai gostar ou odiar? Na próxima vez que nos encontrarmos, vai fingir que não me conhece (porque há alguns bibliotecários pouco exemplares em certos contos) ou vai se sentir mais íntima, posto que compartilhamos um amor comum por bibliotecas?
Já no D encontro um “Dango”. Devo fazer algum trocadilho na dedicatória, usando “dengo”, “tango” ou “Django”? Ou não? Colocando uma gracinha logo na primeira página do livro vou deixá-lo especial ou estragá-lo para sempre?
A dedicatória é o momento em que o livro fica pessoal. Não é algo escrito com os tipos móveis de Gutenberg, mas frases feitas à mão, como se a tinta saísse das veias do autor. É, teoricamente, o contato mais íntimo entre leitor e escritor. E isso complica tudo. Devo escrever uma mensagem diferente para cada um ou uma mensagem padrão, tratando todos igualmente? A igualdade parece justa, mas não são todos iguais. Denilson me acompanha desde o século passado, mas Letícia comprou um livro meu pela primeira vez. Devo caprichar mais na dedicatória à nova leitora por cativar ou ao antigo já conquistado? E o que devo escrever para alguém que comprou dez livros de uma vez? Um “obrigado” parece pouco. Um “posso lamber seus pés?” parece exagero.
Enfim, a hora de fazer as dedicatórias traz à tona algumas perguntas: “Quem me lê?”, “Por que alguém me lê?”, “Escrevo para eles ou para mim?” e “Quais sentimentos e ideias quero provocar com meus livros?”.
São perguntas complicadas. E o surpreendente é que eu tenho a resposta.
É a seguinte: “Pare de enrolar e volte logo a escrever as dedicatórias, senão os livros nunca vão chegar aos leitores, seu abestado!”.