Hoje em dia todo mundo é publicitário de si mesmo. A grande função das redes sociais é a autopromoção. Não, não é aproximar pessoas, não é juntar gente que se interessa pelas mesmas coisas, não é compartilhar conhecimento. Antes de tudo isso vem a autopromoção. Você tem que mostrar o que come, o lugar bacana para onde viajou, como é politicamente consciente, que completou mais um ano de casamento, que um parente querido morreu etc…
Com os escritores não é diferente. Tivemos que aprender a fazer posts com pilhas de livros para mostrar o que lemos, fazer selfies abraçados a personalidades para mostrar que temos amigos famosos, revelar cenas cotidianas para gerar simpatia etc… Antigamente era só tirar a foto segurando o queixo para a orelha do livro. Bem mais simples.
O grosso do trabalho de autopromoção de um escritor é falar dos próprios livros. Temos que contar os bastidores da criação da obra, mostrar quem o leu, quem o elogiou, revelar curiosidades acontecidas com ele, contar os prêmios que ganhou, o trabalho que deu etc…
No fundo, não é muito diferente da garota de programa que posta uma foto de fio dental em cima de uma moto ou de um cozinheiro que prova a própria comida e faz cara de orgasmo.
Tudo bem, eu sei, são os novos tempos. Não adianta lutar contra. Mas que é meio chato, é. E eu não escapo disso. Não sou exceção e tenho que me autopromover. Pelo menos um tanto, se quiser que alguém me leia. Por exemplo (lá vem o mercham), agora estou fazendo um financiamento coletivo para o relançamento de O Chalaça, meu primeiro livro. Depois de trinta anos, resolvi reescrevê-lo com Marcus Aurelius Pimenta e relançá-lo pela minha própria editora, a Padaria de Livros.
Antigamente, eu apenas faria um release e mandaria para os jornais. Mas, hoje em dia, quase não há crítica literária. Nem jornais. A saída é escrever no Facebook, no Instagram, mandar e-mails para pessoas que participaram das campanhas anteriores etc… Dá um trabalhão. E ocupa um tempo que poderia ser gasto com o próximo livro. Mas praticamente nenhum escritor independente escapa disso. Só os autores ricos que conseguem contratar um serviço de assessoria. E, infelizmente, não é o caso.
Mas, apesar dos resmungos, admito que é possível arrancar alguma alegria desse serviço um tanto enfadonho. Por exemplo, pensei que seria divertido fazer um post em que D. Pedro I falasse sobre o Chalaça (que foi seu secretário particular). Então achei um site que faz aquela animação de fotos e coloquei um post no Instagram e no Face. Foi bem divertido e aprendi algo novo. Pouca gente viu, porque a distribuição desse tipo de coisa é restrita. Mas tudo bem, pelo menos me senti fazendo algo criativo.
Aliás, gostei tanto que depois fiz outro com Pedro Américo (o autor do célebre quadro do Grito do Ipiranga) e mais outro com a Domitila (amante de Pedro). Não é arte, mas é feito com arte, o que já é um consolo. Imagino que um fotógrafo de publicidade deve sentir isso quando faz um belo comercial de carro de luxo e diz: “Viu que coloquei um mendigo no reflexo da porta?”.
Enfim, esse texto meio indignado/meio conformado foi feito com a segunda intenção de dizer que a campanha no Catarse está aberta até o fim do abril e o endereço é www.catarse.me/30.
Ah, o livro ganhou o Jabuti de romance e o Livro do Ano, o Luis Fernando Verissimo gostou e a capa tem um tom de dourado que lhe dá um destaque especial em qualquer estante. Ou em cima de uma moto.