Dizem que podemos pensar em qualquer pessoa do mundo, famosa ou não, vizinha ou não, amiga ou não, qualquer pessoa mesmo e que, segundo essa teoria, estamos a no máximo seis passos de encontrá-las. Não sei quem bolou essa ideia e também não vou exercitar aqui os passos até o Trump, eca, ou até o Paulo Coelho, bem mais gente boa que o primeiro malfadado exemplo.

Vou fazer essa aproximação em torno da Rita Lee, impossível não pensar nela nesses dias, as nossas redes sociais evocam a sua história, suas canções e produzem até memes tais como o que estão lado a lado o recém-cassado Deltan Dallagnol e o Sérgio Moro: o primeiro fala ao segundo, “Agora só falta você”, escrevo essas ideias logo após a notícia que derrubou o deputado. Outro motivo pra não esquecer da Rita: sou livreiro e exatamente por isso na nossa rotina no balcão, as obras assinadas pela autora nos são pedidas frequentemente e, somando um fato ao outro, me vem a história.

Acho que foi mais ou menos em 2016, quando fui convidado para ser editor num projeto que estava na fase final de captação de recursos via web, aquela palavra cabeluda crowdfunding, que traduzida não passa de uma vaquinha eletrônica, uma pré-venda de livros e o livro em si era um tesouro em fotos, uma fotobiografia em imagens PB dos Mutantes, uma das primeiras bandas da Rita Lee. De repente, eu estava lá na serra da Cantareira, zona norte de São Paulo, conversando com a autora da obra, a fotógrafa e figuraça Leila Lisboa Sznelwar, que foi namorada do então baixista da banda, o Liminha, e de quebra fazia backing vocal na banda em meio aos clicks em sua máquina fotográfica.

Nossas reuniões tinham o saudosismo como fio condutor, mas a Leila era bem descolada, adorava contar histórias e volta e meia propunha uma dieta parecida com a época flower power. Eu tinha alguma vontade, mas a vontade de fazer o projeto era maior. Então, eu agradecia e ficava na cerveja em quantidades pouco modestas. O evento foi genial, estavam lá algumas figuras roqueiras dos fins dos anos sessenta, a Leila cantou com a banda cover no palco, o Arnaldo Batista, o Carlini e outros músicos estavam na fila do gargarejo, o lançamento foi uma grande festa regada a rock e imagens nascidas dos shows e ensaios dos Mutantes.

Fizemos uma pequena tiragem de 500 exemplares do livro. Depois disso, a Leila seguiu por outro caminho e fez nova edição com outra editora. Ela queria uma atenção que eu não conseguia dar, dei todos os arquivos e ela seguiu em frente, depois vi que ela estava doente, assim como a Rita, perdeu a luta para um câncer e se foi há pouco tempo. Fiquei muito feliz pelo breve período em que nosso santo bateu e fico saudoso dessas figuras roqueiras, Leila e Rita. Acho que vou ouvir Mutantes…