Os livros já me levaram a várias cidades em países diferentes, mas nunca senti tanto açúcar, tanto carinho, como em São Paulo. A coisa ainda está quente na memória e no âmago, por isso resolvi escrever sobre a minha primeira pegada numa cidade imensa, que podia ser Portugal inteiro. O ano passado tive o enorme privilégio de ter um segundo livro publicado nesse lado do Atlântico, Confissão, que foi semifinalista do Prêmio Oceanos em 2021. Não quero e não vou usar estar crónica para autopromover o meu trabalho, mas foi graças a este livro que há uns dias se deu o encontro com o querido Marcelo, da editora Reformatório, e com a Pérsia, com o pessoal da livraria Ponta de Lança, nomeadamente o disponível e sábio livreiro Bruno, com a doce Maria Paula Coelho, do Clube Tatuí de Leitura, com a Cecília Arbolave e o Nicholas Kucker Triana, da Sala Tatuí e Lote 42, com os queridos Roberto e Renata que me encheram de mimos e me deram a provar aguapanela na livraria Na Nuvem, e ainda com o meu primeiro editor no Brasil, o querido e ilustre Vanderley Mendonça, da Selo Demônio Negro, e a sua amada Kelly, que só agora tive oportunidade de abraçar.
Todas as pessoas que me receberam em São Paulo, sem exceção, me saciaram o íntimo com açúcar. Para quem pisa a cidade pela primeira vez, a imponência do betão, o ruído forte do tráfego, a iminência do anunciado perigo de violência das ruas, o caos das centenas de cabos de eletricidade emaranhados nos postes, a miséria explícita das pessoas deitadas nas ruas, a declarada evasão da zona da Cracolândia pelos taxistas; são inúmeros os elementos que podem causar temor e insegurança. Contudo, bastaram uns minutos com as pessoas que me receberam para me sentir acolhida e protegida.
As cidades são as pessoas e as pessoas que conheci são seguramente feitas de mel. De repente, o afeto que sentiam pelo meu trabalho trespassou-me. Numa conversa aberta ao público na livraria Ponta de Lança, tive de impedir várias vezes as lágrimas que queriam explodir durante a minha fala. Nada me comove mais do que sentir afeto e carinho límpidos como senti naquele final de tarde. Não me comovo com facilidade, por isso engoli forte e aguentei todo o serão sem me desmanchar.
Com um atraso de doze horas, a emoção deu-se. Sentada à mesa do pequeno-almoço do hotel, ao verbalizar o carinho recebido no dia anterior, abriram-se as portadas da barragem dos olhos. Choveu em cima do meu pão com queijo, lágrimas pingaram todo o meu café com leite. Gotas salgadas de alegria, porque as palavras que escrevi na solidão da minha casa e que deram origem a um livro me levaram até São Paulo, até àquelas lindas pessoas. Senti açúcar à primeira vista. Desejo muito voltar.