Todas as vezes que me dizem isso, meu primeiro sentido leitor ou auditivo acionado é o da resignação, estado de espírito que abomino porque me soa como algo estático, e o movimento, o motor da vida, é o que busco, não o contrário.

A resignação me parece também irmã muito próxima da derrota imobilizante, aquela que nos deixa em estado letárgico, quase morto. Diferente da apreensão ativa da derrota, que nos faz revisar as escolhas que conduziram àquele resultado e produz uma espécie de convocatória de nossas forças para lutar.

O segundo sentido é o de uma profecia, uma coisa de deixar o futuro nas mãos de deuses, do universo, de uma força maior que definirá a hora certa de as coisas acontecerem. Não comprem briga com uma taurina. Eu faço o meu. Não peço a Ogum que me dê caminho, eu me coloco em movimento, me concentro para escolher a estrada certa e caminho para chegar ao meu lugar. Se der errado, volto à encruzilhada e firmo o passo do recomeço. As divindades entram no quesito plus, ou seja, espero que me olhem e pensem: vou soprar uma ajudazinha ali porque é alguém que trabalha e faz o dela.

O terceiro sentido é o da ameaça: a sua hora vai chegar, então, fica pianinho, cale a boca senão você mesma pode se atrapalhar. Você sabe que no mundo das hierarquias raciais, ser dócil, ou ter um discurso pronto e previsível, ou ser o coringa preto da estrutura subalternizada, te leva ao lugar de pessoa preta que vai sentada na janelinha do ônibus (é uma preta por vez, não se esqueçam), em detrimento de quem fala o que pensa e corre nas raias externas ao acordão.

Aqui, do meu caminho, trilhado sem humildade, sem modéstia e sem resignação, morro sem prêmio (a validação dos colegas), mas não abro mão de cair de pé e atirando.