Frequento feiras de livros desde a adolescência porque gosto delas e deles. Do clima de mercado, de trocas, de compra e venda, de circulação de pessoas, histórias, ideias, conhecimento.
Na minha cidade, num tempo muito distante, quando as feiras e festas literárias não compunham o rol de eventos bem frequentados da moda, existia uma feira de livros na Praça 7, a céu aberto, cuja periodicidade não me lembro. Na primeira vez que estive lá, meus caraminguás permitiram a aquisição de único livro, Aventuras de Ngunga. Eu não tinha ideia de quem era Pepetela, o autor. Comprei a obra pela capa, pela sonoridade do título e porque um escritor angolano se revelava ali.
A vida foi melhorando e o passeio pelas feiras de livros passou a render sacolas cheias e, à medida que fui me tornando escritora, outros interesses se somaram aos iniciais. Comecei a visitar os stands das editoras, pelas quais publico, a buscar os meus títulos e a observar como sua disposição ia mudando nas bancadas à medida que me tornava mais conhecida. Batia papo com livreiras e livreiros gentis e atenciosos comigo. Era reconhecida por uma ou outra pessoa e aconteciam pequenas filmagens e fotografias.
Sei que imagens são a linguagem do momento, mas tenho um entendimento antigo sobre a importância de um registro fotográfico. Fico travada diante de ícones, cujo encontro justificaria o congelamento de um momento. Nunca tive coragem de pedir uma foto ao Gil, ao Paulinho, ao Reinaldo ou ao professor Milton Santos, nas vezes em que estive cara a cara com eles, ou mesmo a outros ídolos menos próximos encontrados em aeroportos. Desse modo, acho engraçado e deslocado que me peçam para ser fotografada, mas cedo, mesmo sem saber como me comportar.
Além do gosto, a antiga aventura de descobrir livros e de estar no meio de milhares deles, abriga também a atividade profissional de quem dá pinta num espaço importante do ecossistema literário. Existem situações insólitas, outras divertidas, outras tantas agradáveis.
Outro dia encontrei um livreiro que me abordou como um velho conhecido, me forçando a puxar as gavetinhas das lembranças para ver se o reconhecia, mas à medida que a conversa avançava, compreendi a tática utilizada para se fazer familiar e me convidar para realizar uma ação na livraria em que trabalhava. Ele citou o escritor mais badalado do país como a pessoa que apresentou meu trabalho literário a ele, numa live durante a pandemia. Aproveitei para dizer que podia até rolar de ir à livraria quando tivesse livro novo, mas seria preciso haver uma contrapartida, algum destaque do livro nos espaços nobres do estabelecimento e também no site. Ele concordou e prometeu levar minhas preocupações ao gerente, pessoa que decide; pela vontade dele eu estaria na mesa central, na vitrine, na capa do site, mas como ele acreditava que eu soubesse, o gerente é quem decidia.
Noutra banca, pedi informações sobre a reedição de uma antologia que integro e pela qual já me solicitaram assinatura reconhecida em cartório para reedições. A atendente não sabia de nada. Ofereci mais informações sobre o conjunto de livros e ela se lembrou que eles foram vendidos para a fundação cultural de um banco e que passaram a ser distribuídos para algumas instituições educacionais ou sem fins lucrativos. Ela sugeriu que eu procurasse a tal organização para conseguir exemplares, distribuídos gratuitamente. Poderia também baixar um e-book no site da editora. Eu me perguntei sobre os desdobramentos da venda dos direitos da obra para a tal fundação. Por certo houve uma negociação financeira, já que ninguém deve ceder direitos patrimoniais para um instituto empresarial de graça. Muita coisa a gente descobre em conversas com livreiras e livreiros, não é?
Nesse mesmo evento fui abordada por um livreiro que se apresentou como meu leitor, de livros e das crônicas que divulgo neste Rascunho, segundo ele, “um soco a cada semana”. Olha só, caro editor! O trabalho está repercutindo e considerei essa opinião como um elogio.