Nem acredito que o semestre está acabando. Meu cérebro derreteu lá por abril, eu acho.
Cheguei em um momento da minha vida em que vejo as férias aproximando e só penso em ficar em casa, ler e, no máximo, tomar um café com amigos. Foi-se o tempo em que férias significavam festa. Nina gosta quando a pilha de leitura aumenta, porque isso significa mais tempo de poltrona. Poltrona significa colo e cafuné. E assim, em uma sequência de significações introvertidas, vamos ficando, Nina e eu, (mais) velhas.
Daqui a um mês Nina completa três anos de idade. Está, quero crer, saindo da fase demoníaca comedora de sofás.
Por falar em aniversários, ontem foi o de Egon Schiele, um dos meus pintores favoritos na vida. Os outros são Gustav Klimt, Henri de Toulouse-Lautrec, Johannes Vermeer, Joseph Mallord William Turner, Katsushika Hokusai, Rembrandt Harmenszoon van Rijn e Vincent van Gogh. Coloquei em ordem alfabética para vocês não ficarem aí achando que eu tenho algum queridinho. Tenho, mas não é para vocês perceberem.
Apesar dessa lista não transparecer, adoro arte contemporânea e não fiquei congelada no tempo, não, tá?
É que foram esses os pontos de entrada. Foram esses aquela amostra que o traficante te dá para te viciar. Foram esses que me levaram à História da Arte.
Nina faz aniversário junto com o Gustav Klimt, o Andrea del Sarto, uma tia paterna e a Queda da Bastilha. É uma data movimentada. Na França é até mesmo feriado nacional.
Tenho tatuados na perna, um Hokusai e, no braço, um van Gogh.
Os outros estão na fila porque sim, o meu objetivo é me transformar em uma pessoa tão colorida por fora quanto sou por dentro.
Ou seja, vou brilhar no escuro. Brega no último, brega raiz.
Preciso agora comprar um pinguim para colocar em cima da geladeira.
Minha mãe e eu tínhamos uma piada particular contínua que envolvia estampas de oncinha. Preciso de um pinguim de geladeira com uma roupinha de estampa de oncinha. Vai se chamar Romero Britto.
Aos poucos, bem, nem tão aos poucos assim, minha casa vai se transformando em um rico acervo de piadas particulares. No corredor, tenho um quadro emoldurado com um alltype da fala do Carioca Revoltado. Em cima do manequim de costura, um chapéu de gatinho que eu trouxe de Tóquio. É um chapéu ridículo e, por isso mesmo, eu o adoro. Do lado do sofá, dois quadros da minha mãe, são poltronas, uma em cada quadro. É só isso. Uma poltrona. Do lado do sofá. No meu quarto, uma reprodução do Quarto em Arles, é o quarto no quarto. Sim, eu sei, só eu acho graça.
Nina já conheceu a casa assim, então não estranha. Tampouco acha graça, mas não estranha. Ela também tem as esquisitices dela. As bolinhas ficam todas — todas! — embaixo da mesa onde está a televisão, mas os mordedores ficam no sofá. Pipoca/TV, mordedor/bolinha, dá tudo no mesmo.
Faz um dia lindo lá fora e Nina me chama para sair. Hoje eu tenho tempo. Vamos sem celular e vamos escolher o caminho mais longo.
Anarquia temporária anual.
Mas você também pode chamar de férias, se preferir.