Professor de francês pede um trabalho sobre o Níger. Muito em dúvida aqui se ele quer ver o circo pegar fogo ou se espera algo como sua capital é Niamei e tem uma área menor que o Pará.
Mando mensagem para minha melhor amiga. Sim, a teoria da ferradura se aplica. Eu já sou velha o suficiente para ser nova o suficiente para ter uma melhor amiga. Sábia, me recomenda calmamente e, de maneira muito ponderada, botar para quebrar.
Na dúvida, decidi tacar fogo no parquinho e falar exatamente o que eu penso da França nessa questão em específico.
Esbarro com problemas de vocabulário. Só chego até connard. Minha apresentação talvez fique chapa branca por pura ignorância. Péra. Não são todas as chapas brancas? Deixa, Carolina, deixa pra lá.
Lembro do Pará, novamente, a partir da comparação fornecida pela questionável Wikipedia. Na última vez que estive em Belém, eu tinha 7 ou 8 anos de idade. Não sou mais essa pessoa. Belém não é mais essa cidade. Não posso dizer que estive em Belém. Não na que existe agora, pelo menos. Conheço uma pá de gente bacana que veio de lá. Alice Ruiz, Olga Savary e Camille Castelo Branco são de lá. Então, alguma coisa boa o estado há de ter. Um dia, volto.
Existem alguns lugares a voltar. Muitos a esquecer. O esquecimento faz tanto parte da memória quanto a lembrança.
Tenho o péssimo hábito de esquecer, de realmente esquecer de pessoas de quem não gosto, ao ponto de me apresentar novamente. Olá, prazer, Carolina. E a pessoa lá com cara de erro do Windows sem entender nada. Às vezes, muito ocasionalmente, a pessoa apenas mudou muito e eu simplesmente não a reconheci, mas é raro. Basta olhar para a tela azul da morte estampada na cara do cidadão que eu emendo “Desculpe, já nos conhecemos?”. É horrível.
Lugares, não. Lugares a gente não esquece completamente, principalmente porque temos uma vivência corporal ali. É uma questão ontológica. O lugar pode voltar apenas em um sonho, mas está lá, em algum neurônio, gravado para sempre.
Uns meses atrás, passei por lugares da minha infância. Modernizados, atualizados, de roupa nova, mas a esquina continua com o mesmo ângulo, a rua com a mesma inclinação, o sol ilumina da mesma maneira. Há um quê familiar. Sei, de olhos fechados, onde virar.
É o mesmo com o francês, para mim. Estudei no Liceu Franco Brasileiro. É o idioma que ouvia na escola. Uma segunda língua, mas ainda assim, da minha formação. Então, estudar francês é quase que uma recuperação de algo que está lá, em algum lugar, em algum neurônio perdido. É buscar a sonoridade da minha infância. Por isso mesmo, tão difícil. Com a sonoridade, voltam também memórias.
Para acelerar o processo, comecei a seguir um monte de gente francófona. Entre eles, um humorista. No dia em que eu entender o que esse homem fala, naquela velocidade, com aquela quantidade de gíria, me considerarei fluente. Por enquanto, fico aqui repetindo o vídeo até conseguir atribuir sentido. Quando consigo, a piada já perdeu a graça. Vai falar rápido assim no inferno, connard.