“Mãe, nada é urgente.” E foi assim.
Filho é sintético.
Vivemos um momento em que tudo é urgente. E, portanto, nada é.
Considero uma vitória quando percebemos que nossos filhos nos ultrapassaram. Em maturidade, em inteligências (sim, plural), em percepção, no estar e ser no mundo, de uma forma geral. Venci.
Deixamos, ele e eu, para trás tanto e tantos.
Se tem uma coisa que não pode ser dita a nosso respeito é que tenha sido fácil.
Organizando a casa, faxina de férias, aquela coisa clichê, jogamos muitas fotografias fora. Foi bom poder olhar para as pessoas com o filtro do tempo. E foi melhor ainda saber quem guardar.
Nada é urgente reverbera na minha cabeça. Filho é sábio. Mais do que eu jamais consegui ser. Venci.
Tive e tenho ao longo da vida várias profissões. Dentro do leque de aptidões, escolhi sempre aquelas sem emergências. Alô, venha correndo, a ilustração está infartando. O mapa fugiu! O artigo foi atropelado. Não que tenha dado totalmente certo, mas sempre tentei ser dona da minha própria vida.
Talvez esteja aí o meu grande desgosto com inteligência artificial, apesar de amar tecnologia. As IAs roubam para si o raciocínio e cospem de volta FOMO (fear of missing out). “Eu gostaria que a Inteligência Artificial lavasse minhas louças e minhas roupas para que eu pudesse escrever e pintar; não o contrário”, frase atribuída à escritora polonesa Joanna Maciejewska, resume bem a questão. Eu gostaria que as IAs ficassem com o imediatismo e a ansiedade para si e devolvessem a reflexão e o pensamento para a humanidade.
A filosofia do Nada é urgente é o antídoto ao mal do século, o transtorno de ansiedade e depressão.
A leitura, por exemplo, sofre atualmente muito por conta da necessidade de um estímulo constante. Está tudo relacionado.
A incapacidade das pessoas de serem responsáveis por si próprias, o que inclui passado, presente e futuro, é assustadora. Não é porque eu não gosto de algo do meu passado que não aconteceu.
Ao negar o passado, nego o futuro.
Por outro lado, se entendo a vida e seus afetos como construções onde eu sou, também, responsável, mesmo o erro contribui à soma.
E quanto mais cuidadosamente — lentamente, às vezes — me dedico à construção de mim mesma, melhor fica o resultado final.
Nada é urgente.