Soube de uma pessoa que notificou o seu empregador que tinha conseguido uma vaga melhor, em outra empresa, e que, portanto, estava pedindo demissão. A empresa ofereceu um aumento para ela ficar. Era blefe. Dupla de três ganhando de um Straight Flush. Não tinha oferta melhor, não tinha nada.
Morro de inveja.
Me sinto absolutamente incapaz de fazer uma coisa dessas sem que o tiro saia pela culatra.
Sou distraída, então posso falar ou fazer ou, mais provavelmente, deixar de falar ou de fazer algo simplesmente por não perceber a sua necessidade. Mas não blefo.
Não tento convencer ninguém de nada, muito menos daquilo que nem eu acredito. Não tento coisas para ver se ganho no grito. Se pego o outro de surpresa, no susto. Não faço isso.
E não faço por motivos de incompetência, não de moralidade.
Nasci sem bússola e sem aptidão para a política.
Eu erro, mas não blefo.
Cresci cercada de jogadores de pôquer. Vi mesas regadas a uísque às nove da manhã. Vi ambientes com tanta fumaça de cigarro que parecia gelo seco, aquela moda brega que invadiu toda festinha da década de 1980. Vi muitas pessoas quebrarem. Emocionalmente e financeiramente.
Não foi isso que me ensinou a não blefar na vida.
Também não foram todas as politicagens falsas ou meias-verdades que vi em ambientes de trabalho.
Nem mesmo políticos fraudulentos.
Tampouco a má gestão empresarial.
Quem me ensinou a não blefar, nunca, jamais, em hipótese alguma, foi um sujeito que conheci.
Era um cara tímido, quieto e muito apaixonado por sua mulher. Ele era casado com uma moça lindíssima e muito doce. Começou a frequentar, a pedido dela, uma igreja. Ele não era religioso. Não dava a mínima para nada daquilo, mas queria agradar a jovem esposa.
Um belo dia, lá pros idos de 2003, na igreja, ofereceram aulas gratuitas de instrumentos musicais. A igrejinha tinha vários instrumentos e um bem-intencionado maestro de competência mediana. As aulas aconteciam aos sábados de manhã. Como todos sabem, manhãs de sábado são reservadas internacionalmente e por lei federal à ressaca (de qualquer tipo). A esposa tanto encheu o saco do sujeito que ele então decidiu falar um instrumento qualquer, bem aleatório, que ele tinha certeza de que não teria na igreja e, dessa forma, estaria livre.
Hoje ele toca oboé no coro da igreja.