Atentado na casa 7

Entre memórias pessoais e teorias conspiratórias, o 11 de setembro se revela data de tragédias, lembranças íntimas e ironias do calendário
Ilustração: Marcelo Frazão
11/09/2025

Onze de setembro. Naquele, não nesse, eu segurava meu filho recém-nascido no colo quando me telefonaram. “Liga a televisão, algum idiota conseguiu bater nas torres gêmeas. Um prédio daquele tamanho e o cara não viu?”

Vi a cena, que se repetia em loop. As transmissões estavam ao vivo quando o segundo avião entrou na equação. Só entendi no segundo. No primeiro, ainda pensava ser um acidente.

Apertei meu filho contra o peito, angustiada pelo planeta que estava lhe entregando.

Todo mundo que já era adulto em 2001 lembra o que estava fazendo naquele momento.

Uma amiga conta que ouviu o companheiro – um homem conhecido por sua calma – dar um grito e saiu do banho desesperada, pingando a casa inteira, pelada. A exagerada descrição que recebi foi “estilo Garota Napalm”.

Outra estava passeando o cachorro, ouviu o zum-zum-zum das pessoas comentando e, em busca de informações, simplesmente invadiu a portaria de um prédio desconhecido, onde o zelador estava com a TV ligada.

A história mais engraçada que ouvi foi a de um velho amigo. Ele conta que estava transando com a TV ligada. Broxou na hora.

Pelo menos no meu círculo socioeconômico, celulares não eram ainda tão comuns, e o smartphone só surgiu quase uma década depois. A televisão ainda tinha alguma relevância e ninguém mais tinha rádio.

Rapidamente começaram as teorias conspiratórias: trabalho interno, demolição, aquelas coisas. Ouvi até que tinha sido um trabalho dos alienígenas reptilianos que vivem entre nós e que eu, inculta e bela, um dia ainda saberei da Verdade.

Em 2008, fizeram uma pesquisa global e o resultado foi que apenas 15% acreditavam que a al-Qaeda foi a responsável pelos ataques, enquanto 46% acreditavam que foi os próprios Estados Unidos.

Para mim, o que mais levanta suspeita é a negação enfática das “ultrajantes teorias conspiratórias” pelo então presidente local, o Bushinho, mas pode ser só implicância minha. Faz tempo já que não simpatizo com os republicanos. Sejam eles laranjas ou não.

O midiático evento ofuscou até o golpe militar do Chile, quando, em outro 11 de setembro, Pinochet usurpou o cargo de Salvador Allende.

Mais chateado com a questão da data em si deve ter ficado Brian De Palma, que faz aniversário no dia. Esse nunca mais consegue comemorar na data certa.

Imagino hoje mães marcando ou remarcando cesarianas para evitar o dia. “Senhora, seu filho vai nascer dia 11 de setembro.” “Ah, não vai, não, marca isso aí para o dia 10.” Faz mais sentido, inclusive, do que evitar signo astrológico. Sol em terrorismo, Lua em assassinato. É, talvez seja melhor evitar mesmo.

Carolina Vigna

É escritora, ilustradora e professora. Mais em http://carolina.vigna.com.br/

Rascunho