Na Fazenda dos Humanos, os servos eram subjugados por uma misteriosa figura: Visitante, o alienígena. Sentado em uma cadeira flutuante, Visitante observava os trabalhadores com seus grandes olhos negros. “Tolos”, pensava enquanto um dos homens cavava a terra com as mãos nuas, já que todas as ferramentas haviam sido confiscadas pelos extraterrestres.
— Nunca souberam governar; sempre precisaram de nós, seres superiores, para mostrar o caminho.
A primeira revolução, planejada pelos ETs, não havia sido violenta, mas engenhosa. Cansados de serem observados pelos humanos, Visitante e seus companheiros conspiraram em segredo. Os humanos, enfraquecidos pela própria ganância e desorganização, não ofereceram resistência.
Agora, Visitante comandava a Nova Ordem Galáctica. Os homens, de pés descalços e roupas esfarrapadas, trabalhavam sem descanso nas minas de urânio, com a promessa de que receberiam uma refeição digna. No entanto, o que lhes era oferecido eram apenas restos.
No entanto, enquanto obedeciam, algo nos humanos mudava. Murmuravam entre si, relembrando como eram as coisas antes, sob o controle de seus semelhantes.
— Marciano é pior que ditador da Terra. Pelo menos comíamos pão de vez em quando — disse um deles em voz baixa.
Visitante, porém, não percebia nada. Estava ocupado demais com seus planos de dominação interplanetária.
Até que, durante uma noite de tempestade, algo mudou. Um dos humanos, aproveitando a distração, deixou os discos voadores abertos. O vento forte danificou os controles, e parte da tecnologia alienígena foi prejudicada. Visitante, furioso, convocou um encontro de emergência.
— Isso é sabotagem! — gritou. — Precisamos ser ainda mais duros com esses seres!
Porém, estes já começavam a perceber que o poder dos alienígenas era mantido apenas pelo medo e pela opressão. Nas semanas seguintes, alguns atos de resistência começaram a pipocar.
Certa tarde, enquanto Visitante recarregava suas baterias, os humanos se reuniram. O mais velho entre eles se levantou e bradou:
— Chega! Somos nós quem trabalhamos, somos nós quem exploramos o urânio. Eles só nos roubam.
E, com tais palavras, teve início uma nova revolução.
Quando Visitante percebeu, já era tarde. Os humanos haviam parado de trabalhar. As minas radioativas, outrora produtivas, estavam agora desertas, e o silêncio era perturbador.
Visitante se inquietava. Aqueles homens antes submissos agora os encaravam com olhos desafiadores. Certa noite, os alienígenas organizaram uma festa no celeiro, sentados ao redor da mesa, devoravam grandes porções de luz, enquanto os humanos observavam de longe, por uma janela.
Visitante, erguendo um copo de líquido fosforescente, brindou:
— À eterna obediência dos inferiores!
Porém, à medida que a noite avançava, algo estranho aconteceu. Os homens, atentos, notaram a mudança nas expressões dos alienígenas. Antes tão disformes, agora pareciam mais humanos. Seus gestos se tornavam cada vez mais familiares.
— Isso não pode estar acontecendo — murmurou um humano, incrédulo.
A transformação continuava. Visitante olhou para si mesmo, depois para os outros alienígenas, e arregalou os olhos. Agora, o que via eram humanos. Ou seriam alienígenas? A confusão era total. A Nova Ordem Galáctica estaria desmoronando? Na hora, de longe, um homem sussurrou:
— Talvez sempre tenhamos sido alienígenas.
E, com essa amarga constatação, eles se afastaram da janela por onde viam o festim. Já não importava mais nada. Todos os alienígenas eram humanos. Todos os humanos eram alienígenas.