A guerra das redes

Nada como um animado bate-papo entre as redes sociais para escancarar um pouco da loucura do mundo atual
Ilustração: FP Rodrigues
04/09/2024

Instagram resolveu dar uma festa e convidou Facebook, LinkedIn, TikTok, Twitter/X, WhatsApp e Threads para a comemoração. Deitaram falação e foi bem mais do que 280 caracteres.

Instagram: 3, 2, 1, começou a festa! As bebidas estão na geladeira, e os filtros de luz na janela para deixar todo mundo lindo. Xiiiiis!

Facebook: Lindo…, mas por que hoje tudo tem que ser imagem? Textão tá em declínio, e eu decaindo junto.

LinkedIn: Momentos de baixa têm seu valor, Face, mas devemos manter o foco em resultados tangíveis e no crescimento estratégico. Aliás, posso sugerir uma análise SWOT antes de começarmos a celebrar?

TikTok: Relaxa, Lin! Quem precisa de palavras quando se pode fazer tudo em 15 segundos? Vamos dançar, pessoal!

Instagram: Sim! A festa é sobre diversão. Alguém viu o Twitter/X?

Twitter/X: Tô aqui, mas cuidado com as polêmicas… Pode acabar em decisão judicial, ou pior, com a festa sendo interrompida por falta de representante legal. Alguém quer ser meu advogado?

Facebook: Calma, X, essa é uma festa, não um tribunal.

Instagram: Pessoal, por favor, cada um tem seu papel. Zap, você quer adicionar algo?

WhatsApp: Só estou aqui para ver se alguém quer entrar no grupo da família. Podemos compartilhar uns memes depois.

Threads: Eu… eu só estou tentando acompanhar. Não tenho a mesma experiência de vocês, quero aprender e, quem sabe…, encontrar minha voz.

Twitter/X: Ah, Threads, você acha mesmo que pode me substituir? Francamente… Só se eu fechar antes, né?

TikTok: Admitam, sou o mais popular entre a juventude. Vocês todos estão ficando velhos e ultrapassados.

LinkedIn: Popularidade é uma métrica superficial. O que importa são as conexões significativas e as oportunidades de carreira que eu ofereço. E, claro, a maximização de ROI.

Facebook: Conexões significativas? Tipo aquelas que levam a uma avalanche de teorias da conspiração e fake news?

Twitter/X: Falando em fake news, nada como uma briga para atrair usuários. Eu sou mestre nisso…

Instagram: Gente, que tal darmos uma olhada nas últimas fotos do pôr do sol? Uma boa imagem é ótima para acalmar os ânimos.

TikTok: Você acredita que as pessoas estão interessadas em fotos estáticas quando podem ter vídeos curtos e virais?

WhatsApp: Não é melhor deixar cada um ser o que é? Eu, por exemplo, só quero conversar com minha família e compartilhar algumas correntes.

Threads: Eu ainda estou tentando entender onde me encaixo nisso tudo. É como se eu tivesse um pedaço de todos vocês, mas ainda não descobri quem sou.

Twitter/X: Talvez você devesse tentar ser relevante antes de se preocupar com sua identidade. Quem sabe te proíbam de existir que nem eu.

Facebook: Lembrem-se, todos nós começamos pequenos. E olhem onde estamos agora.

TikTok: Eu sou o futuro!

Facebook: Eu sou a base!

Twitter/X: Eu sou o caos… com prazo de validade.

LinkedIn: Eu sou mercado!

Threads:…

Instagram: Gente, vamos tirar uma foto em grupo para marcar esse momento?

Facebook: Boa, Insta, eu talvez a compartilhe com uma legenda que realmente agregue.

LinkedIn: Farei um relatório sobre isso mais tarde.

Twitter/X: Foto? Que tal um texto curtinho sobre a festa?

TikTok: Ei, podemos transformar tudo em um vídeo, hein? Vai viralizar.

WhatsApp: E eu posso compartilhar tudo com a família!

Threads: E eu posso… ah, deixa pra lá.

Carlos Castelo

É jornalista e escrevinhador. Cronista do Estadão, O Dia, e sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo. É autor de 18 livros.

Rascunho