Vargas Llosa e Euclides da Cunha: confluências (8)

Em que momento Vargas Llosa prestou uma homenagem a Euclides da Cunha?
Mario Vargas Llosa, autor de “A guerra do fim do mundo”
01/07/2013

É importante aos professores, em especial, a leitura tanto de Os sertões como A guerra do fim do mundo. Pelo resgate que ambos fazem da Guerra de Canudos, talvez o conflito mais importante de nossa história. O livro de Euclides, especialmente, por caracterizar esse tipo fundamental da formação da sociedade brasileira — o sertanejo. O romance de Vargas Llosa é certamente instrutivo. Conforme a proposição horaciana, educa, ao mesmo tempo que dá prazer, é agradável de ler, move a imaginação do leitor. Os dois livros, em síntese, trazem informações históricas extremamente importantes para adultos e jovens estudantes. Duas perguntas, a essa altura, talvez se imponham: em que momento Vargas Llosa prestou uma homenagem a Euclides da Cunha? Através do jornalista retratado na história, que muda sua visão sobre vencedores e vencidos? O jornalista míope, personagem de A guerra do fim do mundo, se remete à figura de Euclides da Cunha, o faz com certa imprecisão. Eu escrevi o seguinte sobre ele, em minha tese de Doutorado (defendida em 2003 na Unicamp): “Quando é correspondente de guerra, indo com a expedição do coronel Moreira César, o jornalista termina amparado por Jurema, ex-mulher do rastreador Rufino, e um anão de um circo já arruinado. É amparado porque, com os bombardeios, os óculos se rompem — e o jornalista tateia, cego. Assim, ele terá uma visão dos acontecimentos a partir, principalmente, do que Jurema lhe descreve — já que a sua visão ficou estilhaçada. Ora, o míope só enxerga o que está bem próximo dele. A viagem do jornalista, assim, alegoriza a aproximação que tornaria possível ver/explicar. Mas, ao chegar a Canudos, os óculos se quebram — e o jornalista curiosamente torna-se um míope que está perto sem poder ver. O narrador, ao chamá-lo de ‘míope’ (some-se a isto o fato da visão estilhaçada), depõe ironicamente contra esse personagem — julgando-o incapaz de interpretar a guerra. Talvez seja este o principal sentido de ‘míope’ no romance”. Acho que aqui eu disse o que penso sobre o personagem de Vargas Llosa. Euclides interpretou bem a guerra, não teve dos fatos uma visão “míope”. Foi fiel aos seus próprios princípios.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho