Vargas Llosa e Euclides da Cunha: confluências (6)

Euclides da Cunha, sabe-se, revisou sua interpretação inicial do conflito quando esteve em Canudos
Euclides da Cunha, autor de “Os sertões”
01/05/2013

Euclides da Cunha, sabe-se, revisou sua interpretação inicial do conflito quando esteve em Canudos. Para a ensaísta Sara Castro-Klaren, em Os sertões“o ponto de vista nacional” é o que predomina. Pelo que se depreende da posição da ensaísta, o narrador de Euclides da Cunha, embora denunciando as “loucuras” de uns e de outros (jagunços e militares), e embora ainda demonstrando uma certa simpatia pela comunidade de Canudos, termina mesmo se identificando é com o ponto de vista republicano, de defesa da ordem institucional. Parece correta a posição da ensaísta. A crítica que Euclides faz não é à República em si, mas à face que ela estava assumindo no Brasil. Sua crítica à nossa República, por exemplo, é posta de forma incisiva e inesquecível na página final de Os sertões. Veja-se o tom sentido, de forte denúncia do massacre do exército contra os canudenses: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho