Concisão: sétima proposta para este milênio, publicado em 2008 pela Nagevar Editora, é um curto, ousado e original ensaio de Sônia Maria van Dijck Lima. Italo Calvino propôs seis valores ou qualidades que, por lhe serem “particularmente caros”, devem ser “preservados” na e pela literatura. São os seguintes: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistency (este último não chegou a ser desdobrado pelo autor). Sônia van Dijck, em seu ensaio (cujo preparo ou motivação veio de um curso a ser ministrado, no ano letivo 2008/09, na Universidade Paris X/Nanterre), aplica Calvino a uma série de poetas do modernismo brasileiro: Mário de Andrade, Ascenso Ferreira, Sérgio de Castro Pinto e Oswald de Andrade. Aplica como modo de exposição, como método para exemplificar, em poemas desses autores, cada uma das propostas de Calvino. Neste passo, o ensaio é claro, objetivo, mostrando como, por vezes, num mesmo texto (a exemplo de Inspiração, de Mário de Andrade, ou mesmo O gênio da raça, de Ascenso Ferreira), as propostas se conciliam para dar maior substância ou valor ao poema. A lógica argumentativa da ensaísta leva-a, em determinado momento, a dar maior destaque à rapidez, de onde irá extrair a categoria proposta no título do ensaio. Aqui, após comentário elucidativo acerca do “caráter sintético” dos poemas Tietê, de Mário de Andrade, e Geração 60, de Sérgio de Castro Pinto, o interesse principal da ensaísta fica claro — ela quer fixar uma nova proposição: a da concisão. Como isto será feito? Sônia começa afirmando: “vejo a possibilidade de uma sétima proposta e sobre a qual ele [Calvino] não se deteve em anotações específicas”. Na definição do que seja rapidez, a ensaísta cita o próprio Calvino, que diz: “A rapidez e a concisão do estilo agradam porque apresentam à alma uma turba de idéias simultâneas, ou cuja sucessão é tão rápida que parecem simultâneas, e fazem a alma ondular numa tal abundância de pensamento, imagens ou sensações espirituais, que ela ou não consegue abraçá-las todas de uma vez nem inteiramente a cada uma, ou não tem tempo de permanecer ociosa e desprovida de sensações”. Para Sônia, por não ter sido destacada como uma qualidade a ser “preservada” na e pela literatura, a concisão é um conceito incompleto ou incerto na obra de Calvino. Por dois motivos: 1) em Calvino, a concisão é entendida “como brevidade do texto”; 2) para Calvino, a concisão é “um dos constituintes da rapidez”. Então — e vem agora o momento conceitualmente mais importante do ensaio (posto eficazmente já para o final do texto, gerando expectativa no leitor) — a ensaísta argumenta: “CONCISÃO: capacidade de o texto falar sobre vários assuntos e remeter a outros textos ou a diversos elementos culturais, em um exercício realizado no espaço hipertextual, cultivando ou não a rapidez da expressão, com o objetivo de nova significação. […] Independentemente de sua extensão, o texto pode ser conciso, desde que se agencie na síntese da variedade de textos ou de elementos culturais, que pretenda confirmar ou criticar em sua nova significação. Seus constituintes só podem ser identificados analiticamente, pois se ocultam na opacidade hipertextual, pretendendo oferecer ao leitor um significado a ser apreendido — recebido — metaforicamente”. Tudo aí está dito. Ou melhor: proposto. Temos, assim, feita com simplicidade e elegância, uma contribuição teórica das mais instigantes.