Em Tom Jobim, decorre da visão da natureza um forte sentimento ecológico, que aparece, por exemplo, em Borzeguim, de ritmo incisivo, composta (como Águas de março) à base de anáforas: “Deixa a onça viva na floresta/ Deixa o peixe n’água que é uma festa// Deixa o índio vivo/ Deixa o índio”. Sentimento ecológico que é ainda flagrado nestes versos que não deixam de ser tocantes: “Passarim quis pousar, não deu, voou/ Porque o tiro feriu, mas não matou” (Passarim). Enfim, as letras da MPB, com o seu inevitável apelo popular, com suas frases simples e “banais” (cf. os versos “O charme das canções/ São suas frases banais/ São seus ais, seus uis e ão”, de O charme das canções (uis e ais), de Geraldo Azevedo e Capinam), em certos casos se afirmam, sim, como poesia. Casos que constituem a chamada poesia da MPB, que se integrou, a partir notadamente dos anos 60, junto com outras vertentes de nossa poesia, ao “curso da lírica nacional” (esta é a tese de Anazildo Vasconcelos da Silva, no livro Quem canta comigo: representações do social na poesia de Chico Buarque, de 2010). Para dizer com Charles Perrone: “… os poemas e as letras de música bem elaboradas podem ser considerados subdivisões da categoria geral da poesia em seu sentido amplo: um texto versificado com beleza de expressão e pensamento”.